E aí vendo até mais tarde um pouco de televisão, entediado pelos programas, agoniado por não achar nada que me prendesse, que me interessasse, de repente, na Rede TV, no programa Super-pop, aparece Luisa Marilac, aquela mesma dos vídeos do youtube. Havia outra travesti, mas que eu não conhecia chamada Patrícia, linda! Também outros três convidados dentre os quais um jovem rapaz que desconheço totalmente. Enfim, o tema girava em torno da prostituição e do moralismo midiático. A certa altura o programa descambou para um moralismo sem precedentes e as travestis Patrícia e Luisa Marilac estavam sendo acusadas por não terem tentado procurar um emprego mais DIGNO, tipo um emprego que toda mãe de família deseja encontrar. O programa, de repente, prendeu-me. Prendeu-me não por seu conteúdo, mas por seu baixo nível intelectual. Uma mocinha, uma convidada parecia querer dar lições às travestis; o mocinho, o jovem rapaz, imaginava na sua mente heterossexualizada que uma mulher travesti não sofre qualquer tipo de preconceito ab ovo; a própria apresentadora que não tem lá muita massa encefálica fazia algumas provocações super-idiotas. E quando indagada sobre ser MULHER, Luisa Marilac respondeu que não era mulher, mas que tinha "cabeça de mulher"... Uma coisa super-difícil da população compreender, porque ensinada desde o jardim da infância que homem tem pênis e mulher tem vagina, qualquer "novidade" é tratada ao nível da anormalidade. Este é um discurso científico, biológico. Mas, se isto fosse verdade mesmo, que mulheres têm vagina, quaisquer vaca e cadela poderiam ser consideradas mulheres; se homens têm mesmo pênis quaisquer touro, cão ou cavalo poderiam ser muito bem considerados homens. Às vezes, exigem-se respostas simples para questões complexas e, neste caso, a coisa não funciona bem assim. Luisa quando diz que tem "cabeça de mulher", mas que sabe não ser mulher, ele diz isso apenas por ter um pênis. Mas, o pênis não é a coisa mais importante na questão de gênero, como uma determinada pessoa se identifica. O pênis e a vagina, na verdade, são periféricos demais para constituir determinadas identidades de gênero. O gênero não admite este tipo de redução anatômica, fisiológica, ele é por "natureza" complexo. Pois bem, aceitando a um desafio, as travestis foram a uma balada para demonstrar que os machões, os pit-boys gostavam de uma menina diferente. Pois é, venceram. Uma convidada da apresentadora, de aspecto muito moralista, não conseguia aceitar o fato relatado por Luisa Marilac de que 95% dos homens SIM gostavam de mocinhas diferentes. As travestis Patricia e Luisa Marilac deram um SHOW de simpatia e inteligência, respondiam a tudo com grande tranquilidade e às vezes com um certo tom de ironia, mas nunca perdiam a classe ou desciam do salto. Nunca fui muito fã desses programas bobinhos que levam para debater assuntos tão importantes e complexos meia dúzia de imbecis que aparecem nas colunas sociais dos jornais e das revistas de fofocas. Mas, assisti ao programa única e exclusivamente em referências as travestis Patrícia e Luisa Marilac. Marilac, por sinal, um doce de pessoa, carismática nata, pessoa simples, mas que atrai pelo riso fácil e pelas histórias que dá vontade de ouvir cada vez mais.
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