sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

AÍ PELO MEIO DIA
João Cândido Tessar
(Ao Prof. Ronhely Severo)

Apunhalados pelas expectativas, pelas ideias, pelo fulgor, pelo desejo, pela vontade, pela utopia, pela transformação e até pelo rubor do moralismo que alegremente trazem no queixo, na língua, na fronte; esparramados entre as mesas, os computadores, em meio ao sentimento de fracasso e esquizofrênicas batalhas, entre ser empregado e empregador, atormentados por invejáveis papeis de grandes interlocutores, presos em suas retóricas, agrilhoados em suas tolas prosódias, procurando esmerarem-se em meio a bilhões de letras seminuas, quase mortas, ululantes de instintividades sádicas, masoquistas, acalorados pelos mourejos e pelo próprio desejo de ceder à instintividade relevam-se cansados da própria vida e desprezadores do seu melhor patrimônio: o corpo. Não lhes cabe a ideia de, de repente, largar tudo, afinal, são os bardos guerreiros de uma guerra perdida, anunciadamente fracassada. Herois em terra de perdedores continuam a fecundar os mesmos paradigmas que tão meigamente insistem em combater. Talvez, alguma dia, subam de suas douradas masmorras e se deem conta do antes cativeiros em que viviam; apressem-se, então, a ir tomar um banho de SOL, passem a valorizar o próprio CORPO, sem vergonha da própria NUDEZ, impinjam-se o DIREITO do autogoverno. Sol, corpo e nudez, enfim, pátria infantil, criança reencontrada.