AÍ PELO MEIO DIA
João Cândido Tessar
(Ao Prof. Ronhely Severo)
Apunhalados pelas expectativas, pelas ideias, pelo
fulgor, pelo desejo, pela vontade, pela utopia, pela transformação e até pelo
rubor do moralismo que alegremente trazem no queixo, na língua, na fronte;
esparramados entre as mesas, os computadores, em meio ao sentimento de fracasso
e esquizofrênicas batalhas, entre ser empregado e empregador, atormentados por
invejáveis papeis de grandes interlocutores, presos em suas retóricas,
agrilhoados em suas tolas prosódias, procurando esmerarem-se em meio a bilhões
de letras seminuas, quase mortas, ululantes de instintividades sádicas,
masoquistas, acalorados pelos mourejos e pelo próprio desejo de ceder à
instintividade relevam-se cansados da própria vida e desprezadores do seu melhor
patrimônio: o corpo. Não lhes cabe a ideia de, de repente, largar tudo, afinal,
são os bardos guerreiros de uma guerra perdida, anunciadamente fracassada.
Herois em terra de perdedores continuam a fecundar os mesmos paradigmas que tão
meigamente insistem em combater. Talvez, alguma dia, subam de suas douradas
masmorras e se deem conta do antes cativeiros em que viviam; apressem-se,
então, a ir tomar um banho de SOL, passem a valorizar o próprio CORPO, sem
vergonha da própria NUDEZ, impinjam-se o DIREITO do autogoverno. Sol, corpo e
nudez, enfim, pátria infantil, criança reencontrada.
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