Não me assusta que desde 2010, 8 em cada 10 estudantes do curso de direito - os famosos bacharéis - sejam reprovados no EXAME DA ORDEM dos ADVOGADOS. Pelos mesmos motivos, apenas em direção contrária, milhares de alunos dos cursos de Letras, História, Ciência Sociais, Geografia, Economia, Psicologia, Matemática, Química, Física, só para citar alguns, deixam os bancos universitários - muitas vezes apresentando um trabalho acadêmico orientado comprado - e ingressam no mercado de trabalho.
O EXAME DA ORDEM é um teste, digamos, cujo objetivo é conectar o bacharel com a realidade das leis, levando-o a aplicar tudo o que aprendeu ao longo do curso nesta prova que gosto de chamar prático-teórico. É preciso que o bacharel esteja preparado para esta prova, isto é, que tenha APRENDIDO - e não apenas frequentado a aula - desde o primeiro dia, que saiba articular a Filosofia do Direito e entenda que para cada caso não se pode aplicar a mesma receita, que saiba para que serve uma jurisprudência, etc.
Quem conhece minimamente a REALIDADE DA VIDA ACADÊMICA, sabe que a sua forma de organização e repasse da informação é doutrinária - sei que deverá ter alguns bundões com enorme vontade de me contestar -. A Universidade serve para alguns como um ENORME MOEDOR de carne; ela tritura as pobres criancinhas que ali chegam e fazem de seus cérebros patê de racionalidade, quase um crepe. Saídos de um ensino médio medíocre, sem nem ter conseguido honestamente as habilidades e competências do ensino fundamental, um pobre jovenzinho filho de trabalhadores é, rapidamente, abduzido pelos ESQUISITOS, ESTRANHOS da Universidade a assinar a sua ficha de FILIAÇÃO com a pseudo-esquerda acadêmica e partidária. Tomado banho e bem vestido ali por volta dos primeiros dias de aula na universidade, ele ressurge maltrapilho, meio fedorento e com um pensamento pra lá de ultramarxista que daria medo até no Stálin. Preso às malhas do academicismo, ele quer salvar seus pais da exploração do patrão. Ele lê "A rosa do povo" e saltita entre páginas de "O capital" muito feliz. O mundo, então, merece uma revolução. A revolução que ele quer é a apresentação do NOVO GRILHÃO.
Já ali, separado do resto da Universidade, o pequeno rábula estuda os manuais de uma lei muito antiga; é levado a acreditar, sem muito pensar, que o Estado é necessário e que a lei é fundamental. Dizem-lhe todos os absurdos possíveis e imagináveis, então, ele volta para casa com o coração cheio de orgulho, empunhando a voz, nariz soerguido, peito estufado: "já sou quase um advogado". Mas, se lhes fazem uma pergunta como "Que é a justiça?" abobalha-se todo e engasga, quer relativizar em mil cristais transparentes. REPROVAMOS OS BOÇAIS, os semideuses das Universidades. Só nos resta agora IMAGINAR que um dia existirá menos teóricos-mirins e mais gente que faça da sua teoria uma forma de explicação do lugar de sua própria opressão.