domingo, 13 de abril de 2014

Desafio não é HEROISMO: o discurso pedagógico-escolar e o infeliz professor

O PROFESSOR tornou-se refém das IDEOLOGIAS pedagógico-escolares. A escola é o palco de batalhas inglórias, mas não só. A escola chegou ao seu limite e, provavelmente, ao seu fim. Tornou-se ela própria um câncer terminal do qual não se pode mais curar o paciente senão administrar-lhe remédios em altas dosagens para evitar dores maiores e ainda assim sem sucesso. Se a escola reflete a sociedade que a empodera e se esta se transformou em PACIENTE TERMINAL é lógico que julguemos que a sociedade na qual vivemos é ela mesma este câncer, isto é, este organismo atingido pela metástase. Discutir, pois, os fundamentos da escola enquanto uma instituição social significa discutir os fundamentos das forças que lhe empoderam, que lhe dotaram de um determinado poder e mais. Significa tratar a escola como a função de um corpo. E o que é um corpo aqui considerado? Uma multiplicidade de forças. Talvez, um só  exemplo seja o bastante para que você me compreenda. A  escola enquanto instituição social tem por FUNÇÃO - já que é um órgão - estruturar, pelo menos, garantir a estruturação das formas-formatos sociais, ou seja, visa garantir a continuidade e a saúde do corpo social inteiro. Enquanto a escola mantinha sobre controle todos os mecanismos disciplinares de formação discente ela podia responder com alguma garantia as expectativas da sua patroa: a sociedade. No entanto, múltiplas e variadas forças emergiram de suas profundezas e protagonizaram perturbações fabulosas no organismo inteiro. A escola como FUNÇÃO sente isto como uma resistência ao processo disciplinar do qual perdeu TOTAL controle. E de que forças múltiplas e variadas me refiro? No nosso caso brasileiro, a internet, a televisão e as ideologias consumistas dominaram o cenário social. A internet aproximou o que era/estava distante e patrocinou, assim, o convívio e partilhamento de determinadas ideias subversivas - a escola não pode controlar -; a televisão brasileira com a sua programação edênica (só lazer) o dia inteiro contribuiu para amansar politicamente a população (a fez inculcar que ninguém sobrevive de política a não ser os políticos corruptos); o consumismo como mais uma estratégia inverteu a ordem dos valores e imprimiu aí uma disputa fratricida entre os desiguais e, sem falar, claro, da cultura de massa que patrocina o hedonismo exacerbado. Veja, então, no que se transformou a escola: um aparelho disciplinador - alguns preferem chamar de moral-educador -, mas cuja função sofre de uma doença terminal porque suas defesas não são auto-imunes e nem têm maior, nem melhor qualidade de força do que a força a que lhe impõe resistência. Geralmente, a qualidade das forças que a escola  emprega no COMBATE de sua doença - assim ela julga - é o medicamento a que estas forças subversivas já adquiriram farta resistência. A escola e a sociedade vêm perdendo a batalha. É, assim, que neste emaranhado de problemas sociais que são refletidos cotidianamente na escola que entram em cena o discurso pedagógico-escolar - tradicionalíssimo - na vã tentativa de barrar as forças que lhe impõe forte resistência e o pobre professor a quem é chamado, pelo discurso pedagógico-escolar, a encarar, a assumir DESAFIOS. OS IDEÓLOGOS das escolas não fazem a menor ideia que o tempo dos DESAFIOS passou. O que eles pedem aos professores - sempre mal remunerados - é o HEROISMO. Constroem todo um manancial de ideias a respeito do que significa DESAFIO e imputa ao professor que o assuma. Dar-lhes-ei apenas um pequeno exemplo. Uma turma de ensino médio, composta por moças e rapazes no final da adolescência, de caráter subversivo. Resistem ao interesse intelectual, ao interesse moral, ao interesse social, isto é, resistem ser emblocados, formatados, seriados; recusam as ideias escolares formadoras. Esta classe/turma de ensino médio transforma-se num carro sem governo, ou seja, um carro que tem a barra de direção quebrada. Se quiser a ideia anterior, um remédio que não cura e que deixa a cargo do administrador do remédio todo o ônus da responsabilidade por seu CONTROLE IMEDIATO. O professor está sobrecarregado, virou um CAMELO - carga pesada - que por ofício, por subsistência aceita atravessar DESERTOS (sua solidão e silêncio). Chegamos ao último momento, ao último dia ou como dizem os adolescentes fanáticos em jogos eletrônicos: game-over para a escola, a sociedade que aí estão.