segunda-feira, 11 de outubro de 2010


A MORTE DE SÓCRATES

Conta-nos Platão que antes de Sócrates morrer, resolveu deixar-nos sua última lição. Dizia: "Oh, adoráveis discípulos, fui condenado por perversão, mas eu nunca comi o Alcebíades e isto consta na ata da minha condenação. Escreve no Banquete, ó Platão, que eu me deitei com o homem mais bonito de toda a grécia, mas ele se levantou mais puro do que quando se deitou. A última coisa que tenho a dizer, antes de tomar a cicuta, é que só ame um puto no segredo, se for muito belo, não deixe nem as marcas dos dedos... Ó, Platão, escreve isto lá no Banquete". Dito isto, o pobre Sócrates tomou a cicuta e morreu para reaparecer a Allan Kardec no séc. XIX. Mas, isto são planos futuros.

A gorda do tiki-bar

Cambaleou na luz negra do inferninho: quanto
mais escuro, mais lindas rainhas. Firmou o
cotovelo no balcão:
– Quedê a gorda?
Ao seu lado, rindo, ocupando todo o balcão,
quem se debruçava, ofuscante na blusa branca
de lã?
– Vamos lá no cantinho.

Em busca de manjares delicados, ambrosias
achadas e perdidas. Fim de noite, sobrou a última
das gordas, prato fundo de caldo de feijão.
– Tua língua é fálica.
– O que, bem?
– Me dá tua língua.
Transbordava sobre ele, o tatuzinho cheio
de patinhas enrolando-se na bola nua de carne,
mais uma bola e outra bola.
– Credo, bem. Mais tarado que o meu
marido.

Extraído da obra de Dalton Trevisan "A gorda do tiki-bar"

Bunda de Fora


Semana passada um amigo me chamou para visitar um pequeno bistrô muito parecido com o do seu Vavá Ortega Botelho. O tira-gosto é uma maravilha - asseverou Macarrão, meu amigo do peito. Em consideração, fui até ao "Bar Bunda de Fora". Não encontrei nenhum gourmet, mas vá lá, disse comigo, o negócio não é tão ruim como faz crer pela faixada. Rápido, um rapazito de avental bege veio nos atender e já chegou naquela intimidade com o Macarrão:

- Iaew, brother, qual vai ser?

Suspirei. Bem, parecia algo dentro da lógica. Mas, mal bastou o rapazito dar meia-volta para ir buscar o pedido - um pires de fava, duas buchadas, uma meiota de marimbondo temperada - lá estava a bunda sorridente, peludinha, engraçadinha, com as bochechas meio no rouge, talvez, pressionadas pelo assento. Danadinha, bonitinha, parecia fogosa, cheirosa já não posso dizer, mas... Apetitosa, atraente, um beliscão naquelas nádegas de fogo... O bar cumpria com o que prometia. Terminamos a tarde meio embriagados, falando sobre Marx e os camaradas, feminismo e política paraibana. No final, Macarrão ainda teve fôlego para olhar para o garçom e recitar-lhe as nádegas do Drummond:

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.

Vexei. E quando menos esperava, um velho janota, careca, barrigudo, peito de fora, gritou para Macarrão: "Ei, moço, vou terminar o que o senhor começou":


Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda 
O garçom riu e, em meia-volta, mostrou a desejada poética de Drummond. Saímos, eu e Macarrão,  chutando as pequenas britas do calçamento.

O elogio do Aborto Inteligente

O que é melhor: uma criancinha pobre, preta e futura putinha, sem pai, nem mãe, sem lei, sem rei, sem lenço e sem documento ou uma higienização de toda esta desgraça, de toda esta raça maldita, satânica? Cesare Lombroso é UNIVERSAL

De repente, Satanás!


Imagens da produção dos panfletos apócrifos a respeito da candidatura de Ricardo Coutinho. Dá-le, Satanás!

Santo Antonhe amarra o nego, Santo Antonhe amarra lá...

Rola na net um panfleto que diz que Ricardo Coutinho foi se consultar com a ialorixá mais famosa da Paraíba, a Mãe Renilda: faz amarração, traz de volta o seu amor, joga búzios, ler a mão, trabalha com Umbanda, Quimbanda e Candomblé, enfim, faz de tudo. Diz o panfleto que "Ricardo Coutinho consagra João Pessoa a  Satanás", doou a UFPB a Ferrabrás, deu o Castelo Branco ao Porteiro do Inferno e o Bancários ao Cavalo do Cão, para O Infeliz das Costas Ocas e a A pomba-gira cigana deu Mangabeira, pelo visto, foi um loteamento dos infernos. O ridículo nisto tudo é a notícia, a crendice, a demonização do político (Ricardo Coutinho) e da política. A denúncia é tão frágil, tão sem sentido que dizer que o Porteiro do Inferno é uma obra demoníaca, só por isto, já se percebe a nulidade, a fragilidade da denúncia. Bem, seja lá quem inventou esta história se a mandando do candidato ou não do lado da oposição da candidatura de Ricardo é o que menos importa. Mas, tentando minar com denuncismos bobos a candidatura do Mago o cara pode tá atirando no pé - como se diz, o que não mata fortalece. É imbecilidade este tipo de coisa, porque é  flagrantemente oposicionista. Vamos a um cafezin?... Ops, já to lá.