ACHO QUE TODOS SABEM que costumo ler a Folha de São Paulo - a versão gratuita - aos domingos. E como sou um pouco briguento costumo sempre pegar no pé do velho poeta Ferreira Gullar. Neste domingo que amanhece tão frio aqui em casa corri rápido para o computador para ler o poeta. Hoje ele resolveu escrever sobre "frases". Mas, o que me importa é menos suas frases do que suas tiradas racionalistas sobre a paz. Num parágrafo muito profundo de sua inteligência artística diz-nos o poeta que,
Falando sobre o conflito entre palestinos e israelenses, observei que ambos os lados alegam estarem com a razão e, enquanto isso, vêm se matando há mais de 50 anos. Acho que eles deviam parar de ter razão --disse eu então-- e fazer um acordo de paz. E contei também como, certo dia, minha namorada veio me encontrar para irmos ao cinema, mas começou uma discussão entre nós, cujo desfecho foi ela pegar a bolsa e ir embora. Eu fiquei ali, cheio de razão, mas triste para cacete. Então disse a mim mesmo: o que importa não é ter razão, mas ser feliz.
Esta "frase" em negrito fora cunhada pelo poeta num colóquio da vida numa Flip (Feira/Festa Literária de Paraty). Este velho poeta nunca ouvira dizer que a paz é, de certa forma, a continuação da guerra de um modo um tanto mais silencioso ou impronunciável? Outro efeito desastroso que quer nos inocular o poeta é o fato de assumirmos o INVENTO - popular - de que a felicidade necessita de paz. Alguém por favor grite: A FELICIDADE SÓ PODE EXISTIR COMO UM FENÔMENO DA GUERRA. Pronto, falei. Se israelenses e palestinos cessarem fogo, chegarem a um acordo, firmarem a paz inevitavelmente chegarão ao estado espiritual do POVO BRASILEIRO: não ter pelo que lutar, então, engordarão e lotarão todos os consultórios de saúde mental de suas nações. Criarão Estados de dementes, ociosos, felizes e, claro, em PAZ.