CRÔNICA DOS 30 ANOS OP.1 N ° 2
Aprendi hoje no centésimo dia da
minha solidão a amar a solidão; todos do outro lado da janela querem me salvar
de mim mesmo e eu posso sorrir agora. Os meus amigos todos estão preocupados e
querem me levar para o cinema ou o parque de diversão; estão tristes e grávidos
da minha tristeza, mas não sabem que o que nutrem são só suas próprias
tristezas e aflição. Eu hoje quero afirmar a minha solidão, porque assim
fazendo termino por dizer a meus amigos que a solidão é companheira das horas
que realmente importam. Meus animais de estimação agora são uma víbora que vem todos os dias na minha
janela e me olha com solicitude e um pequeno escorpião que parece querer me proteger das feras.
Desfiz-me das pressas, aprendi com o jabuti
do meu vizinho a andar mais devagar para poder ouvir o cair das folhas de
uma roseira que ainda pouco era bela, mas agora é magrela e desfolhada: eis o fenômeno da queda. Minha solidão
é como a solidão de uma águia que debocha dos abismos sobrevoando-os, porque também é minha as máximas alturas.