quinta-feira, 4 de abril de 2013

Crônica



CRÔNICA DOS 30 ANOS OP.1 N ° 2

Aprendi hoje no centésimo dia da minha solidão a amar a solidão; todos do outro lado da janela querem me salvar de mim mesmo e eu posso sorrir agora. Os meus amigos todos estão preocupados e querem me levar para o cinema ou o parque de diversão; estão tristes e grávidos da minha tristeza, mas não sabem que o que nutrem são só suas próprias tristezas e aflição. Eu hoje quero afirmar a minha solidão, porque assim fazendo termino por dizer a meus amigos que a solidão é companheira das horas que realmente importam. Meus animais de estimação agora são uma víbora que vem todos os dias na minha janela e me olha com solicitude e um pequeno escorpião que parece querer me proteger das feras. Desfiz-me das pressas, aprendi com o jabuti do meu vizinho a andar mais devagar para poder ouvir o cair das folhas de uma roseira que ainda pouco era bela, mas agora é magrela e desfolhada: eis o fenômeno da queda. Minha solidão é como a solidão de uma águia que debocha dos abismos sobrevoando-os, porque também é minha as máximas alturas.

João Cândido Tessar

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