"Nunca o mais forte o é para ser sempre senhor, se não converte a força em direito, e em dever a obediencia"
J. J. Rousseau in "Do contrato social"
Nos últimos dias fora divulgada uma pesquisa - geradora de grande polêmica - a respeito da visão do brasileiro sobre as mulheres. A polêmica se deu pelo fato de que "o" brasileiro acha que mulheres que usam roupas curtas demais merecem ser estupradas. REAÇÃO IMEDIATA, afinal, as mulheres no Brasil, salvo as senhoras e senhoritas das Assembleias de Deus, sacodem os seios, as pernas e a bunda fica à mostra em decotados e mimosos cortes de "alfaiataria". O LEGALISMO, então,- será feminista? - tomou conta dos debates. Em um país CIVILIZADO - coisa que o Brasil jamais será, graça a Deus; e aí está a prova que passados 500 anos ainda somos os mesmos selvagens de quando Cabral aportou aqui com as Santa Maria, Pinta e Niña -, os homens, sobretudo os homens - afinal, nunca ouvi dizer que um sapatão tenha estuprado uma mulher, perdoem-me a ignorancia no assunto - deveriam envergonhar-se de ter tais ideias. O discurso é um só: vivemos sob os ditames de uma democracia morena e tropical, temos leis específicas; obedeçamos, pois, aos seus ditames. O mais fraco - por menos que as mulheres gostem são elas mesmas - encontraram no LEGALISMO a única salvação contra tais ideias e mais do que ideias, atos (estupros). Coube, pois, aos mais FORTES a degenerencia de sua força e a transformação desta em uma categoria moral: CRIMINALIDADE. Portanto, tudo o que é FORTE, numa sociedade de fracos como a nossa, rapidamente se transforma em crime. Esta é a MORAL de nossa sociedade. Ela se aplica a um fato curioso. As mulheres reivindicando o caráter LEGAL de nossa sociedade para protegerem-se (contra os que PODEM, os fortes), amparada no DIREITO (estrategia de dominação), parece renegar as teses feministas que dizem que os fundamentos de gênero e sexualidade não devem amparar-se em diferenças biológicas. Se a mulher procura por vias LEGAIS a REPARAÇÃO de um dano - no caso moral, o estupro -, ela não escapa, nem escapará de um dano muito maior: o de ser mulher, a parte fraca desta relação que o direito regula. DE ONDE VEM esta nossa cultura de PROTEGER os fracos contra os fortes? Esta é uma INDAGAÇÃO, sei bem, que não convém à maioria dos meus leitores afeitos aos discursos prontos e a ideia geral, ao rebanho. O que li por todo canto onde "andei" é a mesma coisa: MULHERES são vítimas de estupradores, etc., blá, blá, blá. Esta é apenas a superficie do problema e que só interessa a quem domina este nível da problematização. As mulheres são menos vítimas dos homens estupradores do que a propria cultura que as formam. É a cultura, o tipo de sociedade e as leis o que devem atacar. Os estupradores são apenas a ponta do iceberg de toda a violencia - como gostam de assim falar - de que são vítimas e se vitimam. Tenho dito!!!!