sábado, 10 de agosto de 2013

Uma militância apodrecida e uma viadagem esfalecida: onde será que foram parar as velhas loucas de antigamente?

APÓS 1969 o mundo não seria mais o mesmo. 1969 é um ano bastante emblemático para os gays, lésbicas, travestis, enfim, para os LGBT's de um modo geral. 1969 se transformou numa data limítrofe. Quero dizer, exatamente, é a data em que todo o esplendor das bichas loucas de antigamente se encerrava para dar lugar a uma espécie homossexual ressentida, cheia de direitos e deveres, cheia de orgulho, cheia de vontade e tendência para o normal: é o período de sua politização. Muitos intelectuais que estão ligados ao (s) estudo (s) da (s) homossexualidade (s) são coesos em afirmar que 1969 é um ano libertador para os homossexuais. Mas, este é um entendimento ressente, fruto de concepções políticas bastante deprimentes. Com boas razões poderíamos indagar se a partir de 1969 os homossexuais não entravam numa malha discursiva bastante conservadora e  o que parecia ser o mote de sua liberação/libertação não transcendia muito a mais um grilhão e jaulas de ferro. Comparando a "bicha louca" com o homossexual de Estado (higienizado de seus ademanes e perturbações de toda ordem) o que encontramos é um processo de decadência em que a bicha louca é levada ao processo de normalização. 
Os grandes intelectuais que se dedicaram a estudar a homossexualidade, seduzidos por ideias de democracia absolutista (perdoe-me o palavrão), foram forçados a delinear, a esboçar a fragilidade homossexual, a sua condição forçada de anormal, a procurar inverter um discurso de ordem, a situar homossexuais  nas mais baixas esferas da sociedade, isto é, foram obrigados a também, por comparação tosca, a inventar lugares abjetos para então localizar aí os homossexuais... Eis o que eu chamo de processo intelectual de vitimização homossexual. Os grandes intelectuais inventaram pois uma fisiologia para um olhar e uma tradição para uma compreensão. Os homossexuais estavam desde aí, então, fadados a serem vistos a partir de um fisiologismo intelectual que partia de uma ordem moral e axiológica dominante para denunciá-la da maneira mais ressentida possível naquilo que eles inventaram como frágil e desprotegido: o homossexual.
HOJE QUALQUER IDIOTA recém chegado aos bancos universitários reproduz determinadas máximas político-científicas criadas por estes grandes intelectuais. São os herdeiros de uma cultura intelectual geralmente inquestionável. 
Isto, pois, parece ser reflexo do que acontece na Rússia atual. A imprensa internacional anuncia a falta de compromisso do governo russo com a agenda LGBT e de sua conivência a todo tipo de constrangimento a homossexuais como a despeito dos vídeos que estão sendo produzidos por neonazistas daquele país e divulgados pelo Youtube. O governo russo sancionou uma lei que proíbe a divulgação, o alardeio, a propaganda de relações sexuais (leia-se, de sexualidade) não heterossexuais, ou seja, dentre tantas a homossexualidade se acha inclusa. Os ativistas gays na Rússia estão descrentes quanto a uma forma de penalização aos agressores dos homossexuais, uma vez que, o próprio governo foi quem primeiro anunciou uma lei contrária às manifestações homossexuais. Bom, diante de um caso como este, quem no mundo inteiro não diria que os homossexuais russos estão sendo humilhados, enxovalhados, maltratados, tendo seus direitos cerceados e penalizados por um crime que não cometeram? Todo o nosso piedoso humor cristão entra em cena com seus mil tentáculos científicos para denunciar a crueldade dos dominantes. Somos levados a acreditar que estamos vivendo em uma sociedade, em uma civilização e que num tal  grau de desenvolvimento humano ações "bárbaras" como estas já deveriam ter sido extintas (moral do humilhado). Somos levados a pensar e a compartilhar de ideais civilizatórios como ideais que teletransportam o animal ao social e dota-lhe, por isto mesmo, de grandezas humanas inquestionáveis. Mas, parece, está cada vez mais próximo o dia em que todas estas fanfarrices e meninices do conhecimento chegarão, enfim, ao seu fim. 
OS HOMOSSEXUAIS não são apenas vítimas, o lado frágil dessa luta que necessita de ajuda e compaixão. Os homossexuais um dia foram aquele lado mais cruel e aterrador que, real e fatidicamente, ameaçou o discurso de ordem. Mas, assim que foram cooptados pelos ideais democrata-absolutistas, a ver na desordem um crime contra a ordem, a aceitar direitos e a cumprir deveres entrou para um período que se poderia chamar de a grande madrugada silenciosa. Os homossexuais ainda podem virar o jogo se começarem a quebrar primeiro as imagens que foram forjadas para os aprisionar nesta figura ridícula de indivíduos frágeis, medrosos e humilhados, etc; segundo se sacarem a velha bicha louca de antigamente como referência "apocalíptica" para um novo Stonewall in. Tenho dito!