quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ó doce pavio de ninar

Mãos na orelhinha. Calibre 38. Dona Celina é a dona do pequeno bistrô. Olha sem veemência para um velho alfaiate que lhe corteja a sorte. 

- Seja razoável... Apenas uma oportunidadezinha!

Nos porões da casa Lala e Anita no róseo telúrico do amor. Duas gaivotinhas flutuando sobre os jardins suspensos da Babilônia. Se lhe desse um beijo, cantava à medieval. Nada de mais duas mocinhas roçando nas artes do bem, do amor.

- Não sei o que me dar... Tua boca me amarra, teus seios - estas duas mimosas florzinhas, este dois bijourzinhos que são os teus mamilos, Lala... Que Deus me freie os instintos loucos!

O abajur fosfóreo lambendo as perninhas delicadas de Anita. Silhueta perfeita grudada como visgo na parede, presa à doce e dolorosa paixão. No salão o velho alfaiate insiste com a dona do bistrô:

- Quem pensa que sou? Faço a senhora feliz, arrumo a sua vida, dou-lhe de tudo quanto queira, mas por favor...

Peito com peito, de repente, mamilozinhos em riste dos olhos, descendo até a boca, dois surdos gemidinhos de gozo, arrepio na silhueta perfeita de Anita. Quartinho de porão, recanto das abelhas mestras, rainhas, mel d'uruçu, lambente, ó, doce pavio de ninar.

(João Cândido Tessar in: Contos da Cidade Baixa)

Apenas Heróis

APENAS HERÓIS é uma série (super trash) que atores  e atrizes baianos estão realizando. Não sei bem em qual gênero colocá-los, mas às vezes parece novela mexicana com pimenta baiana; outras vezes, parece vídeo para seminário de sociologia do pessoal do primeiro período. Elegante e lixo, jocoso e sério, dá tesão e repulsa. Personagens velhos infantilizados; personagens adultos envelhecidos; trata diversos temas: do brega romântico a aids. É um folhetim, talvez, que prende não pelo virtuosismo dos atores e atrizes, mas pela história e suas arrumações. Começamos a vê-lo e, de repente, estamos dentro da história. Uma travesti (Dona Kid) que se apaixona por um homem casado e inicia um namoro, mas não sabe se a fantasia do homem casado é ser penetrado ou penetrar (já que tem esposa em casa); um rapaz que convive com aids transa sem camisinha com um michê (garoto de programa) sem lhe dizer que é doce (que tem aids) e daí inicia uma crise existencial e foge por alguns dias de casa; um garçon que adora ler, se apaixona por um cara que é humilhado por seu namorado que não consegue largá-lo, enfim. Tem tudo neste folhetim, até heterossexuais que frequentam boate gay (a bem da verdade, o cara heterossexual que vai à boate com a namorado adora o banheiro da boate: faz pegação)! Vale a pena conferir... Boas gargalhadas vocês darão. Na minha lista de LINKS clique em "Apenas Heróis" e divirtam-se. Semana que vem sai o 4º episódio. Não perco por nada!