quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ó doce pavio de ninar

Mãos na orelhinha. Calibre 38. Dona Celina é a dona do pequeno bistrô. Olha sem veemência para um velho alfaiate que lhe corteja a sorte. 

- Seja razoável... Apenas uma oportunidadezinha!

Nos porões da casa Lala e Anita no róseo telúrico do amor. Duas gaivotinhas flutuando sobre os jardins suspensos da Babilônia. Se lhe desse um beijo, cantava à medieval. Nada de mais duas mocinhas roçando nas artes do bem, do amor.

- Não sei o que me dar... Tua boca me amarra, teus seios - estas duas mimosas florzinhas, este dois bijourzinhos que são os teus mamilos, Lala... Que Deus me freie os instintos loucos!

O abajur fosfóreo lambendo as perninhas delicadas de Anita. Silhueta perfeita grudada como visgo na parede, presa à doce e dolorosa paixão. No salão o velho alfaiate insiste com a dona do bistrô:

- Quem pensa que sou? Faço a senhora feliz, arrumo a sua vida, dou-lhe de tudo quanto queira, mas por favor...

Peito com peito, de repente, mamilozinhos em riste dos olhos, descendo até a boca, dois surdos gemidinhos de gozo, arrepio na silhueta perfeita de Anita. Quartinho de porão, recanto das abelhas mestras, rainhas, mel d'uruçu, lambente, ó, doce pavio de ninar.

(João Cândido Tessar in: Contos da Cidade Baixa)

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