quarta-feira, 3 de abril de 2013

Crônica



PEQUENÍSSIMA CRÔNICA DOS 30 ANOS

Que nada em mim, enfim, termine; que eu seja o eterno e sempre recomeçar dos começos. Que o hoje do acontecimento soe para mim como o troar do sempre tornar a iniciar; passados, enfim, mais de 30 anos  de existência pareço já um velho temendo o esmagar do tempo. Tenho pressa; sinto pressa, quero pressa de tudo vivenciar. Já não me dou com os tagarelas acadêmicos, nem me vejo pregando ideias de salvação. Quero apenas conversar com aqueles bêbados toscos frequentadores do bar do Burrego; quero apenas conversar com a velha engraçada e zarolha que aprendi a amar. Livrei-me de todas as indecências das comparações e mais do que lembrar, aprendi a esquecer. Quero tempo, tenho pressa, sinto pressa. Morro de inveja do mendigo sorridente, solitário em meio as gentes, mas confortado em sua própria imaginação. Na comparação ninguém quer ser este mendigo fedido, maltrapilho como se visto de fora. Sei que Moisés, o bêbado mendigo é mais do que Cartola, Adoniram Barbosa e mais do que Sartre. Talvez, eu também devesse dizer como Manuel Bandeira "Vou-me embora pra Pasárgada" , contudo, é uma terra de reis e não posso ser amigo de reis; é uma terra de um sexo só. Destronei as divindades e como "Carmen" de Bizet acho que o amor é pássaro livre. Que nada em mim, enfim, se resolva; que eu seja o eterno e sempre caos dos recomeços.

João Cândido Tessar