Contardo Calligaris é psicanalista e colunista da Folha de São - comumente, denominada por seus leitores como FALHA DE SÃO PAULO -. De fato, os colunistas de Folha têm dando mais fora do que dentro. Por conta do cartunista Laerte Coutinho, Calligaris resolveu embrenhar-se em um universo que muitos poucos conseguem dominar com alguma segurança. Sem mais delongas, farei uma citação do texto de Calligaris em que se lê a seguinte pérola
"Cross-dresser" é quem gosta de se vestir COM ROUPAS DO OUTRO SEXO - ocasionalmente ou, como Laerte, o tempo inteiro. Isso não implica uma preferência sexual específica. Muitos "cross-dressers" masculinos desejam só mulheres. Outros se mantêm castos, porque seu único prazer está no fato de habitar, por assim dizer, a pele do outro gênero
Voltei. Bom, há uma série de problemas em todo o texto do Calligaris, mas que não pretendo abordá-lo por inteiro. De cara, percebe-se que Calligaris não sabe muito do que está falando, sente uma enorme dificuldade de abordar o assunto e o problematiza de modo mais do que leviano. Pra começo de conversa o cross-dresser não passa o "tempo inteiro" vestido "de mulher" qualquer criança hoje em dia sabe que isto está muito mais para a vivência travesti do que para o cross-dresser. O segundo ponto é que se levássemos em conta - vamos dizer - a suposta travestilidade de Laerte isto não implicaria na heterossexualidade, ou seja, que a travesti ao se sentir e se vestir mulher tenha a sua orientação sexual heterossexual: imposição do meio midiático, social, cultural, blá, blá, blá. Supondo Laerte como travesti, por exemplo, ela pode ser uma mulher travesti lésbica: deu nós no juízo, leitor? Uma outra situação poderia implicar na seguinte simulação: sendo Laerte mulher, travesti, pode muito bem não se interessar por sexo, não ostentar uma sexualidade, portanto, o que percebemos é uma espécie de imposição sexual: todos nós temos que ter uma sexualidade, qualquer uma, mas temos que ser seres sexuados. Para um psicanalista, Contardo Calligaris escorregou feio. Adiante no texto, agora é a vez de Calligaris abordar um tema em que ele controverte ainda mais, diz ele
Ser "transgênero" ou "transexual" significa ter a clara sensação de que seu corpo é inconciliável com seu sentimento profundo de identidade: você nasceu num corpo errado, que você odeia, sobretudo a partir da puberdade, quando ele desenvolve seus atributos de gênero. Os primeiros capítulos do João Nery [transgênero FTM = feminino para masculino], "Viagem solitário, memórias de um transexual 30 anos depois" (Leya), são perfeitos para entender o drama de quem descobre que ele discorda de seu próprio corpo
Voltei mais uma vez. Aqui Calligaris usa os termos transgênero e transexual como se eles fossem sinônimos, isto é, como se eles expressassem a mesma realidade de gênero. Calligaris acredita que cross-dresser é um indivíduo que curte se vestir com roupas do sexo oposto. Que dizer, por exemplo, das mulheres que usam terno, gravata, que usam calças compridas? Que dizer das mulheres que são médicas, que sabem dirigir, que votam e são votadas em processos eleitorais? Que dizer das mulheres fumantes? Que dizer das mulheres que são chefes de família, que provém os alimentos de seus filhos sozinhas? Para um psicanalista e colunista de Folha Calligaris nos oferece a aula da idiotice. Bom, levantei estes questionamentos sobre as mulheres que usam calças compridas, que usam gravata, que chefiam família, que fumam, que provém os alimentos do filhos, que votam e são votadas em processos eleitorais, que são médicas, etc., porque num passado não muito distantes estas eram características apenas atribuídas aos homens, eram profissões masculinas e vestuário masculino que o uso comum nos fez esquecer como também num futuro não muito distante nos fará esquecer que um dia celebrávamos estas estranhas diferenças instituintes de gênero. Voltando um pouco mais sobre os termos transgênero e transexual ... Duas palavras com prefixos TRANS. O prefixo trans significa algo além, para além de, como na palavra trans-nacional que significa além do nacional. Mas, um leitor sabido me perguntará: "Então, João, o que é que está além do gênero como supõe o termo transgênero e o que é que está além do sexual como supõe o termo transexual?". Não há nada além do gênero, nada além do sexual como supõe o prefixo trans. O que há é algo aquém do gênero e da sexualidade, do sexual como nós os imaginamos. Como assim? Estes termos são colocados para indicar, no caso do trans-gênero, que um indivíduo nascido como um sexo (aparelho genital) determinado age de modo diverso do esperado, isto é, um "homem" como Laerte, por exemplo, que tem pênis age como mulher ou uma mulher como Tami (tem vagina), a filha de Gretchen, age como homem quanto às suas práticas de gênero. de outro modo, acreditamos que estes aparelhos genitais FUNDAMENTAM a experiência de gênero e não que os gêneros são realidades da prática social que se culturaliza e se expande em símbolos e valores. Já na transexualidade muito geralmente confundida com transgênero porque sempre confundimos sexo com gênero, o que se tem é uma situação de readequamento (termo médico) genital. Ou seja, no caso de uma pessoa nascer com pênis, mas se sentir extremamente desconfortável com este seu aparelho genital e quer trocar esse genital pelo genital oposto ao que tem: uma vagina, no caso. Este novo indivíduo, portanto, que passa por uma cirurgia de readequamento genital, então, segundo as categorias passa a ser visto como um@ transgênero-transexual: ou simplesmente transexual, no popular, operad@. Infelizmente, não tenho mais como prosseguir com um post tão grande. Mas, imagino que eu tenha REPONTUADA a discussão em termos mais reais do que a confusão que Calligaris nos ofereceu. Tenho dito!!!!
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