A resposta óbvia é que deveria
ganhar mais do que as chamadas "tias", referência carinhosa das
crianças às professoras. Se
comparamos as folhas de pagamento vemos que um professor com doutorado da
Universidade de São Paulo ou Unicamp ganha, na verdade, menos do que a
professora primária das escolas ricas. Aliás, bem menos. * De acordo com
informações do Departamento de Recursos Humanos da USP o professor com
doutorado, dedicação de 24 horas semanais, chega, em média, aos R$ 2,1 mil. Por mais impactante que pareça, a
comparação é enganosa: afinal, colocamos lado a lado uma professora de 1ª a 4ª
com alguém próximo do topo da vida universitária. Peguemos, então, um
professor-assistente da USP, com mestrado, também com 24 horas semanais: ganha,
em média, R$ 1,2 mi. Cerca de
dois desses indivíduos valem a tia da escola de elite.
*
Professor Doutor com salário de "Tia", razão da greve
das universidades estaduais de São Paulo, mostra uma tendência inevitável: o
sucateamento do ensino superior público.
"É fácil tirar um professor da universidade pública", afirma Cláudio
Haddad, dono das faculdades Ibmec.
Ele informa que, em suas faculdades, a média salarial é de R$ 9 mil. Em muitos
casos, afirma, paga-se até R$ 13 mil. Salários inatingíveis para qualquer um
numa universidade pública -- e já freqüente em escolas de segundo grau. A média dos professores com
doutorado, dedicação integral, é de R$ 4,3 mil. * Na briga por alunos, as
faculdades privadas sabem que devem apostar na qualidade de seus professores;
logo, vão buscar os talentos das universidades públicas. "O salário exerce um poder de
sedução", afirma o presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de
Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de S.Paulo (Semesp), Gabriel
Rodrigues. As tabelas de sua
entidade informam que um coordenador de cursos consegue tirar um até R$ 7 mil
mensais; o diretor vai até R$ 12 mil.
As universidades estaduais estão literalmente de braços amarrados, graças, em
boa parte, às mamatas corporativas: os orçamentos estão comprometidos quase que
integralmente com as folhas de pagamentos.
Uma situação que não pára de piorar, graças ao peso dos aposentados -- muitos
deles, levando um adicional por dar aulas nas escolas particulares. As universidades públicas correm,
assim, o risco de não mais atrair os melhores alunos e, aí, está selado o sucateamento
definitivo. Em várias faculdades
públicas já estão faltando professor.
*
O aluno vai preferir pagar pela boa faculdade, caso a mensalidade
gratuita implique menos qualidade.
O exemplo: uma expressiva quantidade de alunos prefere cursar administração
numa Getúlio Vargas, mesmo arcando com os custos, do que entrar numa USP. Diga-se que, na FGV, um professor
recebe, no mínimo, uma hora-aula de R$ 50,00, segundo o ranking sindical. "Vamos pagar o que for
necessário para termos os melhores. Só assim, nessa lógica óbvia de mercado,
vamos conquistar nossa clientela", afirma Cláudio Haddad.
*
A lógica do mercado é arriscada pelo simples e bom motivo de que a
pesquisa, fundamental para o desenvolvimento de uma nação, é feita nas
universidades públicas. As
faculdades privadas, seguindo a lógica do mercado, vão procurar o lucro -- o
que é, claro, legítimo, sem problema. Mas dificilmente vão sustentar programas
e cursos com baixo interesse, mas importantes para o enriquecimento e
diversidade de uma comunidade. Estamos
vamos ficando assim: um ensino público em ritmo de sucateamento e as faculdades
privadas, tirando as poucas exceções, sofríveis. Daí a tentação pelas parcerias
internacionais, promovendo cursos à distância. Educação à distância, que
deveria ser um complemento, vai virar, em muitos casos, essência.
*
O problema é que não há projeto de nação que se sustente, de fato,
com o professor titular de universidades de ponta ganha menos do que uma
professora primária. Mais cedo
ou mais tarde, vão acabar se convencendo de que uma parte dos gastos deve ser
coberto com o pagamento de mensalidades.
Quanto mais cedo, melhor.
*
Compare:
Ranking de salários - Ensino Fundamental e Médio
Comparação entre salários: escolas particulares x USP
Ranking de salários - Ensino Fundamental e Médio
Comparação entre salários: escolas particulares x USP
Folha online
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