segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O apóstolo Paulo e a Homossexualidade

Um camarada amigo meu pediu para que eu escrevesse um texto a respeito da explicação paulina - aos Romanos - a respeito do que ele, Paulo, considerava impureza sexual e sua origem. Pois muito bem, é o que pretendo fazer. Então, vamos lá. 

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Ouço muitas vezes em alguns ambientes - mesmo quando não sou chamado a dialogar - muitas condenações aos homossexuais. Veementemente, ouço algumas pessoas passarem na cara de lésbicas, gays, travestis, etc. aquela passagem do Antigo Testamento (Lev. 18:22) que diz, textualmente, que aquele "homem que se deitar com outro como que com mulher fosse, é abominável". É verdade, companheiros, meus camaradas, Deus, este Deus aí do Antigo Testamento, era um "cara" ranzinza, parecia-se demasiadamente à psicologia de seus líderes em nada devendo a todo o panteão grego. Contudo, há milhares de outras coisas que são ABOMINÁVEIS a Deus naquele contexto como, a exemplo, o fato de se consumir CRUSTÁCEOS, portanto, comer CAMARÃO ou chupar a perninha de um CARANGUEJO está ao mesmo nível que DAR O CU e sentir prazer com isto (Lev. 11). Portanto, meus amigos, meus camaradas gays, lésbicas, travestis, não temam... Não há um só crente que não tenha comido um camarãozinho, nem chupado uma perninha de caranguejo... E muito dificilmente vocês encontrarão aqueles que tenham pedido perdão por tão abominável pecado. 
Contudo, o mais surpreendente de tudo é que QUEIRAM - os crentes de um modo geral, bem como, os católicos - aplicar o pensamento paulino, isto é, do apóstolo Paulo, à verdade de Deus. Na verdade, têm o maior tesão em monopolizar a compreensão dos textos que são considerados dentro da esfera religioso-cristã: sagrados. Bom, desde Martinho Lutero que fomos AUTORIZADOS a ler e a interpretar tais textos invalidando, assim, qualquer interpretação que nos ofenda, que seja monopólio de cúpula religiosa ou que expresse por um ou outro meio uma visão deste tipo. Vamos lá, vamos ver o que diz Paulo aos Romanos a respeito do que hoje nós chamamos HOMOSSEXUALIDADE. Só se chega à compreensão da condenação PAULINA, isto é, de Paulo à determinadas práticas sexuais (hoje chamadas homossexuais) por uma questão de entendimento religioso do próprio Paulo. Vamos lá, diz-nos Paulo em Romanos 1: 21-30


21 porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se fúteis e o coração insensato deles obscureceu-se.
 22 Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos
 23 e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis.
 24 Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos do seu coração, para a degradação do seu corpo entre si.
 25 Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém.
 26 Por causa disso Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza.
 27 Da mesma forma, os homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homens com homens, e receberam em si mesmos o castigo merecido pela sua perversão.
 28 Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam.
 29 Tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros,
 30 caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais;

VOLTEI.
Caberia aqui uma série de indagações que, por economia de tempo, não as farei. Façam vocês mesmos. Bom, o primeiro ponto que me chama a atenção é a conexão entre Levítico 18: 22 e Romanos 1: 21-30. Contudo, Levítico diz apenas que determinados comportamentos sexuais são abomináveis e encerra o caso. Paulo não, Paulo procura JUSTIFICAR o ABOMINÁVEL revelando os MOTIVOS de tal abominação que não se acham na PRÁTICA IMPURA, mas na dimensão de práticas religiosas, crenças, fé diferentes da do próprio Paulo e do cristianismo. No versículo 23 de sua carta aos romanos Paulo deixa claro a influência ainda do politeísmo romano e, sobretudo, no zoomorfismo (confecção de deuses em formas de animais) que grassou no Egito. Tais práticas divergem de uma prática de fé como a cristã. Percebe-se, portanto, que estas práticas sexuais IMPURAS não eram condenadas pelas antigas religiões (Na Grécia e em Roma estes comportamentos sexuais não eram condenáveis pelo ridículo de seus tempos). Paulo, então, "ingenuamente". associou esse comportamento sexual à demadas da antiga fé pagã, politeísta e as condenou em nome de Deus. Então, este é o segundo ponto. Como pode, então, DEUS entregar alguém a algo injusto, impuro, ruim? Duvido muito, pois isto não condiz nem com os ensinamentos do Cristo, nem com o pensamento do próprio Deus. Isto PROVA, então, só uma coisa: PAULO falava por si mesmo, mas resolveu, por sua autoridade, assinar em nome de Deus. No versículo 28 Paulo volta a condenar em nome de Deus as pessoas que não queriam aceitar este novo Deus. E novamente Deus entrega as pessoas que o negam a algo REPROVÁVEL e declarou que estas pessoas, no versículo 30, são @s INIMIGOS DE DEUS. Então, parece-me que temos dois deuses: um para o Antigo Testamento que ABOMINA tanto o consumo de crustáceos e práticas sexuais impuras (não convencionais para os judeus) e um deus mais bossa nova, isto é, um deus que já não mais condena, que já não mais enxerga o consumo de crustáceos como abominável, mas dar o cu sim. Paulo viveu muito tempo em Roma e até tinha cidadania romana e soube bem usufruir dela quando lhe foi necessário. A homossexualidade só era condenável do ponto de vista da passividade sexual, isto porque em Roma, como todo bom cristão deve saber MULHER não era considerada cidadã, isto é, não tinha direito político e o seu papel sexual sempre foi considerado passivo, então, isto explica porque a passividade sexual nos homens era reprovável. Por isso que Paulo fala dos EFEMINADOS e nada diz a respeito dos "viados" daqueles tempos romanos que eram considerados machões. Só agora pouco que resolveram colocar em algumas traduções as denominações PASSIVO e ATIVO que não existiam para caracterizar, isto é, ligar-se ao pensamento contemporâneo; a meu ver um verdadeiro absurdo. Paulo foi bem LONGE neste quesito, contudo, não vemos Jesus condenar ninguém ao fogo do inferno. A propósito, quando lhe levaram uma mulher adúltera para que a condenassem Jesus disse aos seus acusadores: "Aqueles dentre vós que estiver sem pecado atire a primeira pedra" e dirigindo-se para a acusada indagou-lhe: "Onde estão os teus acusadores?" e terminou por dizer-lhe: "Vai e não peque mais". Esta passagem encerra uma seríssima contradição do ponto de vista da própria visão que Cristo tinha a respeito do seu tempo e da lei de Moisés. Pois levaram até Cristo a mulher adúltera para que confirmasse a sua condenação, uma vez que, pela lei de Moisés aquela adúltera deveria pagar com a própria vida a desobediência da lei. A lei de Moisés não era a própria lei de Deus? O adultério era ou não era considerado por Cristo um PECADO passível de punição? Aqui, então, aparece com todas as cores o início da GRAÇA. Enfim, não vou me alongar tanto mais. Este texto, ou melhor, esta posição de Jesus em relação a Paulo marca entre ambos uma questão de Estilo e Autoridade. A pergunta que fica lançada é: diante das ações do Cristo, diante das ações do Paulo, com quem tu ficas? Tenho dito!!!

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