Alunos do Colégio Bandeirantes vestem saias durante protesto
DE SÃO PAULO
Cerca de 50 alunos e alunas do colégio Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, foram à escola vestindo saia na manhã desta segunda-feira (10).
Foi um protesto pelo fato de o colégio ter censurado o comportamento de dois alunos que usaram saia, um na quinta-feira (6), durante uma festa junina, e outro na sexta (7).
Batizado de "saiaço", o ato foi articulado na sexta, depois que Pedro Brener, 17, aluno do terceiro ano do ensino médio, foi mandado de volta para casa por usar saia.
Ele, por sua vez, havia se vestido assim em apoio a um colega censurado no dia anterior por ir de menina em uma festa junina. Esse aluno não foi punido, mas a diretoria pediu que ele colocasse roupas "mais adequadas".
Pedro diz que foi retirado da sala e levado à coordenadoria do colégio, na penúltima aula do dia. Ouviu que o traje ia contra os "costumes".
Alunos protestam vestidos de saia em SP
Direção da escola disse que a proibição do uso de saia pelo estudante durante a aula foi feita para 'protegê-lo' Leia mais
Mauro de Salles Aguiar, diretor-presidente da instituição, que cobra mensalidade média de R$ 2.400 e tem entre seus ex-alunos o prefeito Fernando Haddad (PT-SP), disse que ficou surpreso ao ver o aluno de saia.
"Confesso que inicialmente interpretei como atitude de confronto contra a escola", disse o diretor. "Tenho mais de 60 anos. Um rapaz vestido de saia não é uma coisa que você espera ver na Vila Mariana [bairro de classe média] às 10h e pouco da manhã. Ele não está numa galeria de arte, está numa escola."
"Me perguntaram se não estava preocupado com o que meus amigos iriam dizer", afirmou o jovem. "Respondi que não via problema algum, porque acho algo normal."
SEGURANÇA
O diretor do colégio disse à Folha que a proibição do uso de saia pelo estudante durante as aulas foi feita para protegê-lo. No Bandeirantes, os estudantes podem sair para a rua nos intervalos das aulas.
"É altamente irresponsável e leviano por parte dos pais expor o filho a esse laboratório de experiências sociais. Se eles não têm preocupação com a segurança, o colégio tem que ter", diz ele.
"Se estavam tão preocupados com sua segurança, não teriam mandado ele embora para casa", rebate a mãe, que foi buscá-lo antes do término das aulas. O garoto pediu para esperá-la na rua, e o colégio deu a autorização.
"Não vejo como uma saia longa, até os pés, poderia ofender alguém. A atitude do meu filho é um reflexo do movimento que discute a indumentária por gênero."
O diretor diz haver um grupo de trabalho no colégio estudando a questão da diversidade. "A instituição não é isenta de preconceitos, porque ninguém é, mas está procurando entender e se adaptar às mudanças."
O colégio enviará carta com recomendação de que os alunos não adotem o vestuário, mas permitindo o uso de saias, desde que a responsabilidade jurídica pela segurança do adolescente seja transmitida aos pais, por meio de termo de compromisso.
USP
No dia 24 de abril, Vitor Pereira, 20, calouro do curso de têxtil e moda da USP (Universidade de São Paulo), vestiu uma saia e foi à aula, no campus da zona leste de São Paulo. Por isso, foi alvo de críticas, e chegou a receber ofensas no Facebook.
Pereira, então, decidiu criar uma página na rede social --chamada "Homens de saia"-- para defender o uso da peça por ambos os gêneros e ganhou vários adeptos na universidade.
Em manifestação contra as ofensas à Pereira, estudantes da USP organizaram o protesto "USP de saia!", e decidiram ir às aulas e passar o dia de saia.
No dia 16 de maio, alunos se reuniram em campi da USP vestindo a peça de roupa para apoiar a causa.
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