QUE a mentalidade já não é a mesma a respeito de muitos temas parece evidente. Que as múmias da PMDB se tornaram os verdadeiros principados e potestades parece ser outra verdade. Que aquilo que parece ser LIXO CULTURAL vem nos mostrando muito mais do que o LUXO CULTURAL tambem parece ser fato. Todo mundo sabe, por exemplo, que o Forró pé de Serra defendido por Chico Cesar nunca passou em Luiz Gonzaga do que cantares de uma vida derrotada, sem perspectiva do sertanejo passa-fome, flagelado da seca (que ninguém aguenta mais, óbvio); que os forrós eletrônicos abordaram uma temática muito mais urbana, que reflete a crônica da vida cotidiana nos centros urbanos e de sua sentimentalidade meio idiota. Bom, mas aí resolvi ouvir dois destes forrós para escrever este pequeno texto. O primeiro é "A casa das Primas" e o segundo é uma espécie de resposta a este primeiro e se chama "A casa dos machos". Por que os escolhi? Simples, eles a seu modo, representam os últimos fôlegos do machismo e a concreta reação de uma espécie de feminismo popular. Quem é leitor, por exemplo, e já curtiu a fase regionalista da literatura brasileira sabe que o parahybano Zé Lins do Rego abordou a decadência da masculinidade de modo sensacional. Bom, não vou adiante com este assunto porque ele não nos interessa aqui. Veja o que se diz em "A casa das primas":
Deixei minhas coisas no portão/ Daqui a pouco vou buscar/ Pena que durou pouco tempo... Mas, é que eu sou assim mesmo/ sou assim mesmo/ Se a mulher começa a soltar o veneno/ Isso me irrita, isso me irrita/ Vazo pra gandaia e tô de novo na fita
A reação em a "A casa dos machos" é imediata:
Deixei as coisas dele no portão/ Não sei se ele passou para pegar/ Até que durou muito tempo/ É que eu sou assim mermo, sou assim mermo/ Se o cara se acha viro no veneno/ Isso me irrita, isso me irrita/ Saio pra balada com as minhas amigas
MAIS do que um forrozinho para ser dançado e curtido há neles os elementos fantásticos da influência de décadas de trabalho árduo das feministas, das mulheres, das lésbicas, dos gays. Não há, portanto, entre a ação de um e a resposta de outro qualquer tipo de subserviência. As mulheres respondem em tom de igualdade e poder aos homens. E terminam assim, "A casa das primas":
Hoje eu durmo lá pra cima/ Na casa das primas, na casa das primas/ Wisk do bom e mulher bonita/ Na casa das primas, na casa das primas/ Uma do lado e a outra pro riba/ Na casa das primas, na casa das primas/ Se casar não é a minha sina/ Eu vou morar na casa das primas
E a fantástica resposta de "A casa dos machos":
Hoje eu durmo bem do lado/ Na cada dos macho, na casa dos macho/ Bebo de tudo faço um regasso/ Na casa dos macho, na casa dos macho/ Não quero nenhum boy pra encher meu saco
Como se percebe mais do que um simples forrozinho eletrônico, para aqueles que se dispõem a ler, melhor, para aqueles que aprenderam a ler, que SABEM ler, a produção dos forrós, das suingueiras, dos axés é, realmente, fantástica. Tenho dito!!!!
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