Cresci ouvindo mamãe dizer: "Estude, João, para ter um futuro melhor". Na escola as professoras primárias, mães por natureza, repetiam nas aulas o bordão de mamãe. Imberbe, acreditei nas recomendações paladinas de mamãe e das professoras. Meti a cara nos estudos, nos livros, horas e mais horas nos sebos procurando livros mais baratos, horas e mais horas lendo, sem interrupções, relegando-me ao prazer da companhia dos meus amigos na "peladinha" das 5 da tarde; furtei-me aos passeios à praia, ao cinema, aos banhos de açude, enfim, furtei-me de quase tudo e na minha cabeça só vinha o dizer de mamãe: "Estude, João, para ter um futuro melhor". E eis que de repente o tal FUTURO chegou: Eu estava maior de idade, cheio dos estudos, sabido como um caçador ladino, sabedor das armadilhas da língua, conhecedor da política do meu país, já não era mais aquele imberbe "guri" da escola primária, nem o "repolhinho cabeçudo" da mamãe. Eu havia crescido, tornado-me homem. Formado e pós-graduado, enfim, eu imaginava que estaria em melhores condições do que o confeiteiro de padaria onde compro SONHOS ou um pedreiro de empreendimento da construção civil que trabalha diante dos meus olhos todos os dias. Mas, eis que de repente me acho "rebaixado" a mero pós-graduado, com um doutorado quase concluso, mas incurso, estudando gênero, sexualidade, homossexualidades e cada vez mais pobre economicamente. O futuro brilhante que mamãe me assegurava, que a professora primária me asseverava, descobri, era apenas idealizações que elas projetavam em mim, eram seus desejos falando mais do que a realidade vivida. Enfim, não estou rico, vivo com muitas dificuldades financeiras, estou desempregado e cursando o meu doutorado que, sinceramente, não sei se servirá para muita coisa. A política acadêmica adotada pela CAPES e CNPq são castradoras e eu não consigo me ADEQUAR à ordem política destas instituições de fomento. Penso em virar ou me tornar cozinheiro, mas não tenho dinheiro para abrir um pequeno empreendimento. Estou entre a cruz e a caldeirinha. Então, como de costume, passando revista nos sites, blogues, portais da internet me deparo com uma entrevista muito agradável, bem humorada que LÉO ÁQUILA concedeu a Silvetty Montila. Não sabia, Leo é formado em marketing e jornalismo com pós-graduação em política na PUC-SP. Mas, o surpreendente é mesmo o final da entrevista onde ele diz se VALEU A PENA estudar. É óbvio, é claro, NÃO!!! Não estou dizendo que educação, conhecimento é ruim, que não vale a pena, ao contrário, entretanto, o retorno financeiro deixa a desejar e quebra ou frustra os sonhos de um dia viver bem como dizia o presságio de mamãe. Mas, só para se ter ideia, uma travesti profissional do sexo deve ganhar mensalmente mais do que um professor com doutorado se o mês for bom.Uma drag-queen como Leo Áquila ganha, talvez, umas 5 vezes mais do que um doutor por mês. É muito desencorajador quando mais as estruturas e as normas acadêmicas são um convite a mais, para quem as conhece, abandonar a vida acadêmica. Abaixo, assista ao vídeo da entrevista. Divirta-te!
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