quarta-feira, 1 de junho de 2011

Perfil: O cavalheiro do século 21

Demétrio

 Ando pelas ruas da minha queridíssima João Pessoa, a Paris brasileira. Não fosse apenas sua harborização que (ainda) está entre as maiores do mundo, também aponto um forte traço de semelhança entre a elegância e o bom gosto das nossas mulheres.
João Pessoa, a bem da verdade, parece não se importar muito com a novidade
- conquanto a assimile muito bem, inquestionavelmente. Mas a despeito do espaço aéreo congestionado por helicópteros, da civilidade e da educação quase monótonas nas ruas que não são minimamente poluídas (seja por que natureza de sujeira for) e do altíssimo grau cultural do nosso povo, há a João Pessoa do início do século passado: nostálgica, bonita, e inspiradora. A João Pessoa do Centro Histórico. E é nesse plano de fundo, onde prédios tombados (pelos cupins) coexistem com ruas cheias de charme como a Sand's Street (carinhosamente conhecida como Rua da Areia), que desfilam nossas damas tão virtuosas e distintas. Não raramente, vemos senhoritas com lindos chápeus (de farofeiras) exibindo suas curvas (de rinocerontes) sob os finos vestidos de seda produzida em Bayeux, carregando suas sacolas de compras da C&A. É um verdadeiro Hades Oásis aos nossos olhos. Mais ainda pela diversidade que a cidade acolhe: travestis, drags, Giseles Bichas, extraterrestres e bayeenses. Sentada num banco de quiosque, tomando um caldinho de cana e comendo coxinha, está nossa diva a esperar o príncipe encantado, o homem que roubou seu coração para uma terra de romantismo.
Falo do cavalheiro do século 21, leitor! Este misto de modernidade e tradição. Homem de virtude, elegância e fino trato. Mas que também não esquece a "pegada", a "virilidade". É o lorde com que todas as mocinhas sonham casar: o homem que abre a porta do carro para a donzela acomodar-se, o namorado que paga os almoços em restaurantes (caros, claro!) e as faturas dos cartões de crédito, o noivo que não escreve cartas nem envia flores - simplesmente abre a carteira -, o marido que fica careca e obeso de tanto trabalhar para sustentar os caprichos dessas moças de familia, tão disputadas pelos gentlemen. São homens que estudam boas maneiras no CAC do Rangel, que se diplomam nas academias de musculação, e que fazem pós-graduação nas mesas de bar. São homens que exercitam os segredos da cama com outras mulheres, só para ficarem "tinindo" para suas esposas. São homens que negam veementemente a infidelidade, só para não machucarem seus amores. São homens que, se gostassem de homens, eu pediria em casamento.
Mas não posso pensar tão maldosamente desses tão íntegros cavalheiros - tão machos e intocáveis! Até porque, o que há de gay em dar uma escapadinha e comer a bunda de outro cara? O cavalheiro do século 21 é assim: nada do que ele faz fora das quatro paredes é para o mal da relação. Ao contrário: é para doutrinar-se na arte do casamento... Nem que para isso faça frango assado e chegue ardido em casa!
Pensando bem, nem aqui nem em lugar nenhum do mundo há homens assim, tão machos "apesar de tudo"! Somos melhores que Paris!

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