Vendo-te belo assim, que estás perdido,
Que não és mais que um homem da vida,
Sem coração, sem alma, rude e alma fria?
Em teu corpo o pecado principia
E em tua boca rubra e adormecida
Pintada, falsa, lúbrica, despida
Morre toda a decência a cada dia!
E, no entanto, que doçura enorme
No teu semblante plácido que dorme
Nas linhas do teu corpo displicente!
Para onde vão os teus beijos inflamados,
Teus gemidos de gozo, teus pecados,
Quando dormes assim, tão inocente?
***
Gostaria muito de ter escrito este soneto, por sinal, sem título. Coloquei o título de "Soneto Maldito", porque o seu autor foi um gay entre as décadas de 1950/60. Este soneto foi retirado de uma obra intitulada "Homossexualismo e delinquência" de Luis Angelo Dourado, 1967. Impressiona o talento, o ritmo, a melodia do soneto. SONETO perfeito. Digno, em relação à forma, à perfeição da forma, a Luiz Vaz de Camões. Enfim, o autor deste soneto que não se sabe o nome, porque dentro do quadro geral das casuísticas não era costume revelar o nome de quem se tomava para análise. Fica aí registrado mais um poeta gay desconhecido para sempre! Pelo menos, ele nos deixa a sua obra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário