sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Novamente, g0ys

JÁ FAZ UM TEMPINHO que escrevi a respeito da "natureza" sexo-afetiva dos g0ys, gays zeros ou homoafetivas. E volto, novamente, a este assunto por uma necessidade de tentar reavaliar este novo fenômeno que vem sacudindo do ponto de vista do VALOR MORAL, a heterossexualidade tradicional. Os meninos desta nova geração (geração Y), aqui o crédito deve ser dado evidentemente às bichas loucas, sim, porque foram elas (as bichas loucas) as primeiras a ousarem, a questionarem a masculinidade do ponto de vista da própria heterossexualidade, ensejaram, encorajaram os homens a buscarem sua AFETIVIDADE e demonstrá-la entre iguais sem que para isto fosse preciso passar pelo ridículo da humanidade. Os g0ys, neste aspecto, devem às bichas loucas, este direito de expressar os seus sentimentos e, mais do que o sentimento, de quebrarem parte de uma profunda INTERDIÇÃO que fora imposta aos homens heterossexuais: aproximarem-se de outros homens e demonstrarem seus afetos e carinhos, seu amor por seus iguais. No entanto, a relação dos g0ys com os gays termina aqui.
O que me motivou a escrever este novo texto foi a afirmação de um g0y que teve expressiva penetração no próprio meio g0y, ou seja, trata-se de Cláudio La Paz. Vou citá-lo e depois comento a sua afirmação:


"Nós [ g0ys] sentimos atração e gostamos do semelhante. Não desejamos atos desiguais, a relação gay no nosso entendimento não é igualitária, no momento em que estabelece a figura do ativo e do passivo, cria-se a tentativa de cópia de uma relação de cópula heterossexual"

VOLTEI. Aqui, então, como acredito, residem erro e problema. As relações homossexuais, do ponto de vista da desejualidade, isto é, do próprio desejo sexual, da sexualidade e do papel sexual que um determinado gay exerce em suas práticas sexuais, não podem ser reduzidas a CONTEXTOS POLÍTICOS de análise sob pena de que cometamos algum tipo de LEVIANDADE. A fala de La Paz está muito centrada em questões políticas da sexualidade; parece que ele leu todos aqueles manuais feministas da primeira onda feminista que ocorreu lá pelos séculos XVIII e XIX. Nenhuma relação ou forma de relação sexual configura-se igualitária senão àquelas que fazem parte do imaginário mais comum e mais idealista. Todas as relações políticas, porque é da natureza da própria relação política a desigualdade e, portanto, da dominação de um e a sujeição de outro. Bom, mas também não quero me aprofundar em contextos políticos. Quero me fixar apenas na citação, isto é, na fala de Cláudio La Paz. 
Contudo, é verdade que a divisão sexual dos papeis entre ativos e passivos assemelha-se bastante aos contextos de práticas sexuais heterossexuais normativas, no entanto, há uma distância enorme entre uma pulsão desejual (vontade, desejo sexual que se relaciona a alguma parte específica do corpo, uma zona erógena, por acaso, o ânus é considerado uma zona erógena, senão, que o corpo inteiro é considerado uma zona erógena) e uma dominação política. Não há uma relação de DESIGUALDADE entre um gay ativo e um gay passivo numa determinada relação sexual se o gay passivo não está sendo coagido a praticar sexo (PASSIVAMENTE) com o gay ativo; se a sua passividade sexual é fruto de sua pulsão desejual não há outra forma de realização sexual que não exercendo o papel de passivo na relação (caso específico e localizado). Bom, não vou adentrar aqui a contextos psicanalíticos da formação sexual dos sujeitos, este papo fica para um próximo encontro porque é demasiadamente logo. 
A heterossexualidade em si mesma praticada pelos g0ys - heterog0ys como gostam de ser identificados - não estabelece em suas relações contextos de igualdade político-sexual. O fato de não praticarem SEXO ANAL, PENETRATIVO não lhes garante esta igualdade sonhada ou pretendida. Não é o ânus o responsável direto por representar a dominação de um indivíduo sobre outro em contextos de sexualidade ou práticas sexuais. Isto é até SIMPLISTA demais, é pobre demais este tipo de análise e revela, por isto mesmo, o nível idealista a que pretendem estabelecer como a representação de uma realidade possível. Só para se ter uma ideia, apenas o ânus é o INTERDITO deste tipo de prática sexual, pois ela marca, até certo ponto, a diferença entre ser um g0y e ser um gay. No entanto, o SEXO ORAL, absurdamente, não está descartado e até constitui parte do que se pode FAZER entre dois homens heterog0ys. Será que o SEXO ORAL não é apenas uma variante de uma forma de sexo penetrativo? Será que o fato de AJOELHAR-SE ou fixar-se um pouco ABAIXO de outro "macho" para felá-lo, isto é, CHUPÁ-LO, não o conduziria imediatmente a um contexto de desigualdade? Todo heterog0ys gosta de felar (chupar) outro homem? E se numa relação um g0y curte chupar e o outro não deveríamos entender, por isto mesmo, que há na diferença desejual de cada um algum tipo de dominação política ou uma desigualdade na relação? Como se percebe, faltou a La Paz muita reflexão, muita problematização. Ao passo que as práticas são libertadoras... Quando elas entram no DISCURSO elas prestam seu tributo à ignorância, porque tentam justificar o injustificável. Tenho dito!!!!!

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