sábado, 14 de junho de 2014

APENAS UMA CRÔNICA



ALÉM DO MAIS...

São 2 da manhã. Levanto-me da cadeira, num bar qualquer de esquina. Vou até o caixa e faço o pagamento de todas as minhas lágrimas não choradas, apenas sentidas. Em seguida, prossigo na caminhada. Ruas tortas, gemidos aqui e ali em cada rua. Serão dores? Serão “ais” de gozo? Até que chego à rua da minha casa. Tão simples, tão singela, tão calorosa como nunca vi. Meus vizinhos correm todos a me consolar. Uns pedem tranquilidade e outros com os olhos suspenso na dor parecem dizer que se compadecem do meu padecimento. Então, ergo a cabeça por cima da multidão. Vejo estendido no chão o corpo do meu marido. Duas balas enfiadas no seu corpo e uma carta escrita à mão entre os dedos.

Olha, querida, não te assustes com o ocorrido. Fui feliz ao teu lado, contigo. Teu jantar deixei na geladeira. Você demorou demais pra voltar esta noite. Meu último desejo era ter podido jantar contigo. Bom, paciência, não deu. Amanhã os meninos têm aula bem cedo. Os uniformes estão conforme. Leve-os para estudar. Fui passear no além. Espero que um dia eu retorne. Mil beijos, Ademar”.

João Cândido Tessar

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