segunda-feira, 29 de julho de 2013

A marcha das vadias na JMJ

EU JÁ DEVERIA TER ME ACOSTUMADO com determinadas práticas de contestação. No entanto, acho que estou ficando "careta" demais. Já não mais me apetece o tipo ingênuo com que alguns indivíduos procuram fazer provocações. As mulheres da revolução um dia queimaram seus soutiens e agora balançam as tetas moles e desnudas em praça pública. Realmente, contestação. Livres da personificação do MAL (o soutien) elas agora grassam pelas ruas animando a garotada donzela, provocando os punheteiros mirins e os machistas de plantão.

Um dia eu também me diverti bastante e imaginei que poderia mudar o mundo. Petulante e pretensioso, teria crucificado Deus e o Diabo numa só cruz. Olhando, pois, um pouco para trás, com a experiência e as leituras do presente (sem esquecer as do passado), com as reflexões demoradas e com toda a experiência que adquiri nos abismos por onde transitei consigo enxergar um pouco mais longe. Evidente, tudo pelo que já passei foi preciso, necessário e inalienável para uma formação superior. Um dia eu também empunhei uma bandeira e também gritei algumas asneiras - coisas da menor idade intelectual -.

Algumas imagens da manifestação - MARCHA DAS VADIAS NA JMJ - são esquematicamente chocantes. Ao longo deste meu texto reproduzo algumas delas. Um dia eu vi neste tipo de agenciamento, de ação, de atitude um grande poder contestador sem o qual, imaginava eu, era impossível caracterizar grandes enfrentamentos, enormes lutas. Mas, não será este tipo de ação que se vê nas imagens o mesmo tipo de ação, de agenciamento, de atitude que se procura combater? As imagens não revelam, pois, o princípio da contradição dos ideais, ideias deste tipo de movimento? Fazer sofrer ou impingir um sofrimento de mesmo teor, quantidade e qualidade a um opressor não revela à suposta vítima a mesma "essência" e, por isto mesmo, não a reduz a seus algozes? Um dia eu lutei ao lado de pessoas assim; um dia eu também lutei desta maneira. Que ingênuo que fui.

QUE NÃO ME TOMEM por um legalista, um moralista. Mas, não consigo enxergar nenhum teor digamos, revolucionário, neste tipo de ação. Talvez, uma análise um pouco mais profunda, mais demorada revelasse, justamente, o seu caráter conservador. E uso o termo conservador (conservadorismo das ideias próprias a este movimento) aqui para dimensionar a pieguice da manifestação das vadias, bem como, todo o processo essencializador da "luta". E sabe vocês o que estas palavrinhas querem dizer?

A luta destas mulheres é bastante legítima. Séculos de dominação masculina acabaram por forjar uma forte resistência por parte delas. Parte de toda esta gritaria faz sentido, tem razão. Quem minimamente conhece a historia da dominação masculina sabe o quanto foi difícil para as mulheres se tornarem mães (por favor, cf. "Um amor conquistado: o mito do amor materno)" de Elisabeth Banditer). Para nós hoje é NORMAL e NATURAL que elas queiram ser mães (o seu processo civilizador as teleguiam para este fim), que hajam como idiotas e que admitam para si mesmas que são frígidas. Mas, foi um verdadeiro inferno e um processo de longa duração para que a mulher fosse transformada nesta figura idiotizada com que o machismo durante séculos se deleitou. Mostrar os seios em praça pública parece algo como uma afronta à lei do pudor que só penaliza a mulher descamisada, não o homem. Mostrar os seios significa rasgar o manto santo com que os homens as cobriram; significa sair da clausura forçada, abdicar do reinado do lar para tomar as ruas (lugar por séculos destinados apenas aos homens) e a política como prática de vida.

CONTUDO, a meu ver, nada disto justifica práticas desnecessariamente violentas. Durante a marcha houve quebra de IMAGENS DE SANTOS católicos. Queira-se ou não, o cristianismo faz parte de nossa cultura. Oprimindo ou libertando ele está em nós e nós nele - que sejamos santos ou putas, ateus ou cristãos -. Não existe alguma semelhança entre aqueles processos de aculturação na formação do povo brasileiro e esta ideia iconoclasta de agora [não deveríamos ter amor aos nossos inimigos?]? A afronta é menos ao povo religioso, aos cristãos, aos católicos especificamente, mas a própria história cultural de nosso país.
Enfim, este século já é das mulheres. Elas conquistaram tudo. Falta apenas alguns ajustes. Perdoem-me se decepcionei neste texto ao não enveredar por questões especificamente teoréticas, intelectualoides. Sei que alguns gostariam muito que eu tivesse escrito um texto com mais carne científica. Mas, tenho sempre optado pelo texto mais simples, sem grandes curvas teóricas. Afinal, a teoria separa o que por natureza se acha unido.
Peço-vos fazer apenas um exercício, talvez, o último exercício intelectual: abandonem as categorias analíticas com as quais os intelectuais se divertem [elas não são reais]; abandonem as categorias teóricas [elas são ideologicamente fundamentadas] com as quais os intelectuais se deleitam... Abandonadas e desacreditadas o que daí pode resultar como prática de vida? Tenho dito!

Nenhum comentário: