CRÔNICA DOS 30 ANOS OP.1 N ° 3
A solidão das individualidades
Meu vizinho me perguntou como é
que um “doutor” se passava para conversar com bêbados e analfabetos; minha
vizinha queria saber o que é que um “doutor” fazia na universidade; a infanta dona Rafaelita apontava com
muita presteza as indelicadezas da alta corte de sua acadêmica comunidade; veio,
então, siá Mocinha para dizer que a
vida estava um inferno; veio, então, major Lobão para dizer que tudo estava
fora dos esquadros e dele se ouvia só nostalgias da revolução de 1964, daquele
março!; dona Misericórdia de muito
boa oratória já não acreditava na humanidade e falava de sua menina Lindar que
se “perdera” na idade das debutantes; e nisto tudo, nós, sem os honestos
motivos, buscávamos de improviso os curativos para nossas feridas a supurar.
Feridas enormes, purulentas; feridas da alma sorumbática, perdida, aflita;
feridas as feras em suas dignidades, apenas sub-existia o homem no interminável funeral de sua humanidade.
João Cândido Tessar
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