segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Revista VEJA mais uma vez ATACA GAYS


UM DIA estive propenso a ser militante. Militante de qualquer coisa. Queria ser visto. Bom, então, o tempo passou e a minha necessidade de aparecer desapareceu por completo. Hoje o holofote me causa pânico. Mas, o holofote me persegue. Talvez, eu tenha sido - já disse isto aqui algumas vezes - o primeiro aluno de graduação da Universidade Estadual da Parahyba (UEPB) a desenvolver uma monografia, especificamente, sobre os gays (lá se vão alguns anos!). Mas, já naquela época, antes mesmo da aparição de Silas Malafaia e outros da mesma espécie que ele aparecerem na mídia eu já achava IDIOTA a ideia de gays buscarem a qualquer custo a normalidade (quero deixar claro que esta é uma ideia muito particular). Para mim estar dentro dos quadros da normalidade não me trazia a menor vantagem mesmo aqueles direitos fundamentais existentes em quaisquer sociedades e pelos quais alguns gays - digo alguns porque não é todo gay que vai empunhar uma bandeira e sair por aí gritando que é gay - insistentemente lutam. Os estudos acadêmicos foram - quase a unanimidade - tomados e povoados pelos gays. Mas, eles não conseguem produzir coisas originais. Reproduzem a eterna luta universal de Deus contra o Diabo. Por que todo este prolegômeno? Para dizer que a revista VEJA desta semana traz uma matéria bombástica (bombástica foi até um pouco demais, na verdade, uma matéria que provoca o gays: será que sou gay?). Estou propenso a achar o titulo da matéria de VEJA "PARADA GAY, CABRA E ESPINAFRE" sonoramente poético. Quem assina - só para desencargo de consciência a dita cuja matéria é J. R. Guzzo (que belo nomezinho!). Mas, o que há de tão "TRANSGRESSOR" na matéria de Guzzo que mereceria um post meu aqui no blog? Para início de conversa ele afirma que "Já deveria ter ficado para trás no Brasil a época em que ser homossexual era um problema". Bom, as bichas mais novinhas dirá: "Porra, isto é provocador?". É, naturalmente, isto não foi nada provocativo. Há, na verdade, um certo quê de verdade nisto. Embora já não seja mais tão ameaçador ser gay o fato é que ser gay ainda provoca algumas confusões, alguns arrependimentos. O armário, então, é o destino de todo gay inteligente. Guzzo ainda faz uma provocação sobre o KIT-Gay que segundo ele este passava uma imagem "aos estudantes que a atração afetiva por pessoas do mesmo sexo é a coisa mais natural do mundo" e não é? Realmente, começo a ficar um pouco assustado: o texto parece atualizar certos pré-conceitos, potencializar determinadas teorias... E determina absolutamente que "para a maioria das famílias brasileiras, ter filhos ou filhas gay é um desastre - não do tamanho que já foi, mas um drama do mesmo jeito". Ufa, eu até pensei que Guzzo não fosse capaz desta gentileza, isto é, reconhecer que já foi pior mesmo para as famílias brasileiras assumirem a homossexualidade de seus filhos. Fatidicamente, a homossexualidade era um desastre mesmo, mas muito menos para as famílias brasileiras do que para os próprios homossexuais. Guzzo só peca neste fato. Ser gay em determinadas épocas não era nada fácil: deveria passar desde tratamento de eletrochoque, convulsoterapia até a práticas terapêuticas positivistas como aquelas aplicadas no filme "Laranja Mecânica" a fim de moralizar determinados comportamentos. Pois é, Guzzo então parte para as meninas dos olhos do gays: homofobia, direito, institucionalidade, isto é, as garantias de que se pode ser GAY EM PAZ no Brasil. A este respeito diz que "Não há um único delito contra homossexuais que já não seja punido pela legislação penal existente hoje no Brasil. Como a invenção de um novo crime poderia aumentar a segurança dos gays, num país onde 90% dos homicídios nem sequer chegam a ser julgados?". Tenderia a dar razão a Guzzo se não fosse um pouco mais espertinho do que ele. Bom, o fato de instituir uma lei específica - como foi a lei de racismo e a lei de mulheres, a Maria da Penha - não foi para diminuir a criminalidade contra negros e mulheres (isto é basicão, cá pra nós!), mas para potencializar a pena, especificá-la. O que Guzzo quer dizer é que os gays são iguais (perante a lei, claro, este é o seu fanatismo jurídico) a quaisquer pessoas, isto é, Guzzo tentou reduzir todo mundo por baixo, igualando os crimes e suas penas. A resposta a Guzzo não é como "a invenção de um novo crime" pode aumentar a segurança, mas é como a "invenção de um novo crime" pode garantir a sua imputabilidade específica. Para terminar a análise do texto de Guzzo que já está me cansando... Diz ele "Se alguém diz que não gosta de gays, ou algo parecido, não está praticando crime algum". :Touchè!, para Guzzo. É verdade, o fato de uma pessoa não gostar de gays não faz dela criminosa. Mas, imaginemos que um homem que não gosta de gays e exerce um cargo cuja função é superior, isto é, tem poderes para isto e para aquilo dentro de uma empresa determinada e faz uso deste seu cargo para ultrajar um determinado gay? Então, a história muda um pouco. Parece-me que neste caso o "não gostar" desdobra-se e é no desdobramento que a lei deve garantir ao ultrajado as recompensas pelo ato sofrido. Sinceramente, não sou partidário dos gays apesar de ser um gay. Não me vejo empunhando uma bandeira, gritando "eu sou uma bicha louca, quero ver meus direitos reconhecidos" e acho que o Movimento Gay Brasileiro falha em alguns pontos bem específicos, mas não irei comentar este assunto. O texto de Guzzo parece depor contra ele mesmo. Ainda é sim um ENORME problema ser gay no Brasil e o texto do Guzzo é este problema. Os caras como Guzzo não deixam os gays deixar no passado aquela ideia de que ser gay no Brasil deveria ser algo a ser deixado no passado. Bom, então, devemos usar deste passado para PROBLEMATIZAR textos como este do Guzzo e quantos mais vierem. Eu não milito, mas exerço minha crítica daqui, do alto do meu pedestal, que de tão alto, sou lido, mas  sem ser visto. Tenho dito!!!!!

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