sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Vida X Razão: A decadência humana e a superioridade animal Parte I

Relembro agora a minha primeira lição escolar, a primeira lição séria que me lembro na infância e com o peso e a gravidade da voz que @ professor@ teria que dar: "O homem é um ANIMAL político": cuspia este platonismo vulgar (o homem é um bípede implume = o homem é um animal político: Platão e Aristóteles), este aristotelismo de esquina a minha primeira professora primária. A professora primária se esforçava para tornar isto inteligível a uma turma de impúberes crianças pobres, da periferia, que a olhava sem entender nada. E eu, ali, vestidinho naquela roupa idiota de colégio público o tempo inteiro me perguntando: "Como posso ser animal se sou um ser humano?" Eu não entendia este paradoxo, esta contradição da própria definição aristotélica de homem como animal e, pelo visto, a minha professora primária menos ainda. Então, deu-me de lhe indagar: "Oh, tia, se sou ser humano como posso ser ao mesmo tempo animal"? A professora enrubesceu. Nada tinha a dizer. Esta pergunta, pois, de caráter, talvez, bobo para muitas pessoas que como eu aprendeu na escola que o ser humano é superior a todos os outros seres viventes porque ele possui uma característica definidora que não se encontra em nenhum outro ser: a inteligência ou mais, especificamente, a razão humana. Mas, fomos sempre animais políticos como quer Aristóteles ou bípedes implumes como quer Platão? Evidente que não. Veja que o problema é ainda mais profundo quando consideramos o caráter HUMANO dos seres humanos racionais. O humano (benevolente, bondoso, racional etc.) está em contraste com o caráter instintivo, impulsivo, irracional dos animais o que mais tarde filósofos modernos chamarão de potência e psicanalista chamarão de pulsão. Pois, então, como posso ser ao mesmo tempo racional e irracional que é, em síntese, o que propõe a definição aristotélica? A chave para a acessar esta resposta está no caráter político qualificador do homem enquanto ser humano: seu lócus é a polis grega. A definição, pois, de Aristóteles procura o profundo, o metafísico, mas ela só é possível na superfície, na superficialidade, na exterioridade que lhe forja, isto é, no caráter político: faltavam aos filósofos pós-socráticos (Platão e Aristóteles) os BIFOCAIS modernos. O político metafisicamente como definidor do homem é tão verdadeiro como uma nota de 2 reais. O mesmo vale para o critério platônico de que o homem é "um bípede implume" desmantelado, então, por um filósofo cínico chamado Diógenes de Sínope ou Diógenes, o cínico!, que apresentou a Platão uma galinha depenada como sinônimo do seu conceito de homem. Percebe-se, então, que o conflito instaurado pelos filósofos pós-socráticos - vida x razão - é ainda o que nos sobeja à mesa intelectual. Quer dizer, a vida dos animais deve ser considerada inferior à vida dos homens porque esta é possuidora de razão: entendimento? O entendimento dar-nos o direito de subordinar a quem não tem entendimento? O que é este entendimento? Como é possível entender? Respostas para estas perguntas fica para a segunda parte. Tenho dito!

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