domingo, 9 de outubro de 2011

OS HAWAIANOS: O pente como metáfora da modernidade

Traição não combina com amor; amor não combina com um lance: eis, pois, o que significa o PENTE como metáfora da modernidade: é preciso organizar as coisas. É o pente o responsável pela separação das esferas, por seu desembaraçamento, por sua capacidade de distinguir as coisas. A discursividade, pois, de “É o pente” obedece sem criticar o projeto da modernidade: a organização, a separação das esferas, o controle real e sistemático,por exemplo, do social. Diferente, pois, de “Liga da Justiça” que borra a organização, debocha dessa organização moral: “Fodge Mulher Maravilha, fodge com o Superman”. Aqui, pois, estão borrados, misturados os valores morais representados pela superioridade do superman e da mulher maravilha com os valores imorais/inferiores: foder. É esta uma análise possível. Há, entretanto, que contrastar. Se em “Liga da Justiça” a crítica que é feita se refere ao valor moral que supúnhamos verdadeiro, ideal, ele termina revelando a sua fraqueza frente o mal que inverte a posição dos valores e dos sujeitos: se antes o valor era orar (Deus), agora o valor supremo é foder (Diabo). Bom, vou me referir, agora, mais especificamente ao que significa PENTE para o funk e origem deste hit. O termo PENTE no funk significa foder e PASSAR O PENTE significa ficar com mais de um@/ter várias relações sexuais com pessoas diversas. Alguém, então, poderia perguntar: “Então, João, parece que do ponto de vista do valor moral “É o pente” assemelha-se, senão, reduz-se, converge com “Liga da Justiça” ou não é verdade?”. Só aparentemente e se levado em consideração apenas o fato de que o sexo (pente) assume na comunidade moral do funk. Veja, então, que o estribilho, a repetição enlouquecida de “é o pente” nos adverte já de antemão que é preciso ser controlado, isto é, se não me engano, a música inicia com 16 repetições de “é o pente = é a foda”. E esta repetição tende a chegar a 35, o máximo. É muito importante perceber isto, porque a repetição que PARECIA gerar algo como que um valor supremo pela força de sua repetição descontrolada, uma afirmação de um valor que era então negado (foder), de repente, é pausado para voltar ao estado de antes, o valor da organização moral: vale aqui aquela música que diz: “cada um no seu quadrado” e, é, neste aspecto, que a força quase telúrica de “É o pente” é domada pela organização moderna que parece lhe advertir que não ultrapasse este limite: “Traição é traição/amor é amor/um lance é um lance”. Portanto, para que as coisas sejam inteligíveis, é preciso que elas estejam organizadas. E quando falamos em organizar algo falamos também em controlar algo. Assim, desde o início “É o pente” se revela muito mais conservadora do que a sua aparência parece querer demonstrar. Em tempo ampliarei o artigo como fiz com "Liga da Justiça". 

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