segunda-feira, 24 de outubro de 2011

DEUS E O DIABO NO PARAÍSO DO CAPITALISMO: A vida, a incredulidade, os fracos, os poderosos e o 'djabo' a quatro...

Na mercearia do velho Bonanza a vida parece fácil. Um gato pigado de gente aqui, outro ali, uma palitada nos dentes... Um colibri (beija-flor) que lhe vem tomar a garapa, um cachorro que passa ladrando em perseguição a um pernilongo diário. É o grito da esposa, dona Constança, o choro do netinho Evaldo, a saia curtíssima da morena Dora que briga com o vento para que não lhe roube a "tapioca"; é o malandro tomador de cachaça que chega cantarolando um sambinha qualquer.. Vidinha besta, meu Deus, vidinha besta! Bom, aí é que são elas... A vida, assim, parece fácil. O capitalismo aqui não oferece recado, não manda intimação, não faz confusão. Tudo é light. Só fica tudo complicado quando algum vizinho de esquerda resolve dizer que a vida é uma desgraça e a culpa de tudo é do capitalismo. Dona Constança, incrédula, diz que a culpa não é do capitalismo, mas é da desobediência dos homens a Deus. Começa-se a armar o circo e eu do meu canto espio tudo. "Os poderosos, dona Constança, os poderosos, os patrões são como fogo em palha: consome tudo". Pois é, a vida começou a ficar aborrecida. "Mas, se o homem não tivesse desobedecido às ordens de Deus hoje estava vivendo num paraíso". Bem que isto tudo dava um bom nome de crônica: "Deus e o Diabo no Paraíso do Capitalismo". Uma luta que parece eterna, eu vou me desviar um pouquinho dos pré-moldados da vida: as teorias prontas, os conceitos, o modismo, o marketing, o comportamento... Isso tudo cheira muito mal.  Em busca da felicidade - eis o nosso veneno! - abandonamos Deus, inventamos o homem e também a mulher modernos. Depositamos toda a nossa fé na política, na tecnologia, nas pequenas, médias e grandes invenções. Parece que nada deu muito certo e hoje já não acreditamos no melhoramento do homem: tudo, então, esvaziou-se. A genética bem que poderia dá uma boa contribuição. Mas, de que nos adiantaria melhorarmos a estrutura, a embalagem, se o conteúdo continuaria o mesmo? A incredulidade reina, dizem os crentes; o problema é vencermos o nihilismo, dizem os filósofos, façamos a revolução dizem os vizinhos de esquerda. Incredulidade e nihilismo são a mesma coisa: entorpecimento vital. Entramos em um mundo de perspectivismo sem perspectiva. Para escondermos a nossa agonia do vizinho, simples, entramos na moda: compramos o televisor da hora, o celular, o carro lançamento. Quando nada, então, dá mais certo: voltamos ao estado anterior. Voltamos a conversar sobre amor, política, religião, então, aparecem novamente os grandes debatedores - verdadeiros carniceiros! - os conservadores. Aparecem, pois, os detratores das consequências da modernidade, os detratores do que hoje em dia virou fácil pedido em lanchonete: pós-modernidade. Estamos engarrafados, o mundo inteiro perdeu o sentido. É preciso investir na frivolidade... As drogas nunca foram tão disputadas. Em tempos de crise, de perda de sentido profundo, o desencorajamento, a fraqueza para continuar a existir... Bom, último remédio: entorpecer-se para continuar a viver. Aula do jardim de infância: o capitalismo não gerou a crise: seu papel é tentar administrá-la. Deus e o Diabo não têm culpa se os abandonamos, trocamo-os por alta definição, 3D, engenharia genética, políticas de toda sorte, enfim. Não vale mais a pena viver? Pergunta retórica. Foram alguns sociólogos, filósofos, economistas que nos fizeram erroneamente acreditar que estamos em crise por conta do modelo econômico. Certo, ele gera sua própria crise. Ele tem um universo singular, particular. Mas, há uma crise de maior proporção, de maior densidade, a existencial. O capitalismo aprofunda, mas não cria, não gera. Enfim... Os poderosos são tão fracos como os fracos. A diferença é que os poderosos podem comprar alta definição e todo tipo de tecnologia moderna: anfetaminas poderosas. Então, ouço os gritos do vizinho da esquerda: "A senhora devia pensar naquelas pessoas que não têm o que comer, que são exploradas nas repartições de trabalho, nos sem-terra, nas péssimas condições de trabalho e educação, na má distribuição de renda"...Ao passo que dona Constança lhe avisava: "E o senhor devia ser mais simples no palavrório, porque aqui não tem ninguém besta. Não adianta espernear como faz o senhor, a vida continua com ou sem dinheiro, sendo empregado ou patrão, a vida continua a mesma desgraça de sempre e a causa é a desobediência ao Senhor: seja você rico ou pobre, preto ou branco, a vida aqui na terra é esta penúria pra todo mundo". Foi quando chegou o mendigo Hércules - nome bem apropriado para um mendigo - e disse: "Seu 'Bonancia" eu vim lá de dona Canô... Tava uma arenga da porra lá... Bote uma daquela bem temperada pra eu aí pra mode esquentar a natureza... A vida tem de continuar". Tenho dito!

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