domingo, 17 de julho de 2011

Crônica do Domingo: Se você dá o cu, não significa que você é gay; se teve contato recente com o dep. Jair Bolsonaro não significa que você é macho

Aí, de repente, dona Margarida do 501 me encontrou nos corredores. Ela estava carregada de sacolas de lixo, mas as sacolas eram de luxo. Então, rapidamente, a velhinha tímida, que eu julgava incólume de tudo, praticamente, a personificação de uma santa, perguntou-me: 

- Oh, João, você acha que só por que um cara dá o cu ele é gay?

Fiquei surpreso, estufei os lindos, pequenos e brilhantes olhos que tenho e, rapidamente, depois de refeito com a pergunta da velhinha, retruquei-lhe na mesma moeda:

- Ah, dona Margarida, tenho amigas que dão o cu e acham sensacional; umas até me confessaram que os namorados delas gostam mesmo de um cuzinho.

A velha soltou uma gaitada e meteu a mão no meu ombro:

- É, nos meus tempos de jovenzinha, lá nos anos 1960 eu dei muito a bunda também. - Estarreci.

Como se percebe, ser gay, homossexual, lésbica, bissexual vai muito além da nossa anatomia, da nossa fisiologia, enfim, da nossa biologia. Uma mocinha que dava a bunda nos anos 1960 não era gay; uma mocinha que dá a bunda hoje em dia não é gay; um rapazinho que gosta de sexo anal também não pode ser considerado gay pelo simples fato de gostar de sexo anal. Ser gay, portanto, vai muito além de sexo. O sexo não nos define, embora algumas pessoas acreditem seriamente que permanecerá macho se nunca praticar sexo anal. Parece ser aquilo que a deputada carioca Myriam Rios defendia. Ser gay ou lésbica diz respeito a uma identidade, como a pessoa se sente, se identifica, em que comunidade de gênero, sexual, percepções, visão de mundo, nunca, portanto, restringindo-se apenas a sexo, isto é, a prática sexual. E outro, entre os próprios gays há uma infinidade de estilos, de percepções, etc. Não raramente você poderá encontrar gays que defendam a monogamia e outros que defendam a poligamia, o poliamor, etc. Outros gays que procuraram se casar, manter uma relação tradicional, pautada nos preceitos cristãos e outros que irão se jogar nas baladas, nas raves, nas festas, enfim. Ser ou não ser, eis a questão que Shakespeare nos adverte. Hoje em dia, no mundo contemporâneo o SER OU NÃO SER shakesperiano parece uma piada, porque não precisamos mais, ao menos em tese, destas definições. Já sabemos que sexualidade - práticas sexuais - quaisquer que pratiquemos não nos reduzirá a isto ou àquilo. E lembrando o Marx de "A ideologia alemã" - texto que recomendo a leitura por ser um livrito muito bem escrito, ideias muito fantásticas - podemos acordar mulher - como diz Chico César em uma de suas músicas "Já fui mulher eu sei" - e dormirmos homem, acordarmos viados e, novamente, acordamos sapatão. Há uma infinidade de práticas que podemos praticá-las sem que nos reduzamos a nenhuma delas, sem que nos identifiquemos essencialmente com nenhuma delas. É algo muito parecido como ir a um parque de diversão. Há inúmeros brinquedos e você pode brincar em todos eles sem, contudo, se definir ou ser definido por seu uso. Tenho dito!

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