sexta-feira, 10 de junho de 2011

Por que nos permitimos o governo? Não sabemos nos governar?


Eis uma pergunta que, talvez, assombre as criancinhas: por que os pais mandam, governam sobre nós? Não somos, nós, as criancinhas, inteligentes o bastante para que nos governe a nós próprias? Precisamos de nossos pais nos advertindo sobre o que podemos e o que não podemos realizar; sobre o que queremos ou não queremos, sobre o que devemos ou não devemos fazer? O que há conosco que desperte em nossos pais a ideia de que somos incapazes? Um psicólogo, um padre ou um professor não dirá que não temos maturidade suficiente para gozarmos de nossa liberdade infantil? Em que medida é a vida adulta superior às inexperiências da infância? Com grande júbilo uma vez uma criancinha resolveu desafiar o poder paterno e desobedecendo aos seus pais sentiu o corpo inteiro vibrar. Na vida adulta, aquelas criancinhas que não ousaram desafiar os seus pais continuam governadas pela sociedade, pelo Estado. Continuam sob o jugo de um poder que o governa de fora; que não respeita o seu sentimento, menos o seu desejo; que lhe obriga a fazer tal e tal coisa e não lhe pergunta se isto é confortável ou desconfortável para o cidadão. Obriga-lhe a fazer "opções" na vida que não queria ou não poderia fazer. Por que na vida adulta, quando pleno de nossas faculdades mentais, quando pleno de nossos desejos e vontades de realização, quando, então, estamos cônscios de nossos poderes individuais e rechaçamos o poder exterior - do Estado, por exemplo - não resistimos como uma criancinha resiste aos brados enfurecidos de seus pais? Por que preferimos ser governados a nos governar a nós próprios? O que tememos? Dirá a criancinha mais idiotizada, aquela em que o poder externo, o poder do outro a inoculou: "Tu deves proteger a tua sociedade, o teu Estado e o teu país sendo obediente!". É em nome da sociedade que não governas, de um Estado que não é o teu Estado e de um país onde vês brotar as desigualdades, por conseguinte, as calamidades que não reages. A vontade do outro, o governo do outro, o desejo do outro apossou-se de ti de tal modo que esquecesses quem tu és e do governo que podes praticar. Ajoelha-te ao governo do teu próximo esquecendo-te do teu próprio governo. E tu, por onde será que andarás? Tenho dito!

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