Pessoal, nós não devemos negar nosso folclore! Por mais nocivo que seja viver com o pé no passado, não dá para não se sentir na Era das Cavernas em certos momentos. Pense num paleolítico "brabo"! Daquele em que a pedra é lascada na cabeça dos outros. Pois bem: esse revival dos nossos momentos evolutivos mais remotos pode ser visto casa do "Porteiro do Inferno" da cidade de João Pessoa. Jackson Ribeiro, genialmente - e premonitoriamente -, antecipou esse lugar de horrores, essa afronta à civilização. E, ao mesmo tempo que antecipava, também inspirava, cada vez mais, sua constituição. Sim, meus caros: o Terminal de Integração é a representação, em forma de lugar, daquilo que o referido artista campinense concebeu em obra. Trata-se, também, de um passeio cultural visitar tal espaço. Assim como o Parque dos Dinossauros de Souza, nós também temos nossa atração científica e
turística aqui na capital. No Terminal (corretamente chamado assim), não raramente encontramos por lá circulando Austrapolithecus como o africanus e o paranthropus, além de uns mais evoluídos, como o afarensis, que já possuem um cérebro um pouquinho maior.
turística aqui na capital. No Terminal (corretamente chamado assim), não raramente encontramos por lá circulando Austrapolithecus como o africanus e o paranthropus, além de uns mais evoluídos, como o afarensis, que já possuem um cérebro um pouquinho maior.
Hoje mesmo, ia eu andando, confortavelmente em pé, na Arca de Noé, quando adentro no dilúvio dos meus sonhos: o Porteiro do Inferno. É uma sensação como aquelas que deve se ter naqueles parques de diversões maiores, onde se pega um trenzinho e se faz uma viagem por lugares assombrados, cheios de sustos e sopapos. Sinto falta de uma inscrição acima, logo na entrada: "Welcome to Nightmare" (bem-vindo ao pesadelo). Felizmente, estou eu na arca, e nem presencio a recepção que se faz ao contigente que desce do busão: todo aquele pessoal, em círculo, tapando a porta dianteira do veículo. Sentado pouco atrás, e observando o novo contingente da arca, eu vejo uma senhora, com um maxilar bastante desenvolvido (provavelmente um Australophitecus robusto) a olhar chocada para uma "mocinha" que sentava no banco ao lado (ou melhor, em 50% do banco, já que o "tal" hominídeo ocupava o seu e mais 25% do dela), a versão feminina do nosso secretário da cultura com o aperfeiçoamento de uns dreadlocks e umas mechas verdes no cabelos - uma menção à medusa -, incrédula. Essa senhora olhava, depois virava o rosto. Depois olhava de novo. E fez isso incontáveis vezes, como que querendo ter certeza se aquilo era uma alucinação ou a mais malfadada verdade. E a fila vai entrando. É uma salada de gente que não tem fim: é emo, é bicha, é cafuçu, é manequim C&A, é tudo que você sempre temeu encontrar. Próximo à janela, fico sem saber para onde olho. Resolvo fechar os olhos, mas as lembranças estão frescas demais. Daí olho a rodoviária, e encontro o único oásis naquele desmantelo todo. Enquanto o ônibus não sai, respiro o bafo que sai debaixo do veículo e entra pelas janelas. Tão gostoso! E ainda me divirto com as pessoas num já lotado "latão" segurando suas bolsas e sacolas, olhando de "rabinho de olho" para os passageiros sentados, e estes fingindo que não é como eles. Ah, que gozo! É uma viagem de risos e lágrimas de crocodilo. E quando o "trezentão" sai de lá, já sinto um alívio em meu interior.
"Navegar é preciso", disse Fernando Pessoa. Ainda mais se proporcionar tanta cultura e fantasia. Mas eu não sou "Pirata do Caribe": preciso é chegar logo em casa - isso sim!
Demétrio (autor desta crônica e outras mais)
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