segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ainda somos os mesmos, mas não como os nossos pais

Duas da manhã ouço batidas-surdas. Blog-tiblog. Levanto-me, vou até a cozinha do meu apartamento. Aquelas batidas horrorosas. Em seguida: "uhn, ai, ui, assim tá gostoso... Um explodir de champagne: pluft... xiiiiiii". Putz, o vizinho do 420 está enrabando a Dona Célia. Tadinha, como sofre. Duas da manhã e tendo que satisfazer os instintos sexuais de um bêbado maranhista. Mamãe tivesse vindo aqui pra casa passar a noite, não acordaria viva. Minha mãezinha é muito religiosa. Resolvo, então, para me manter à margem dos sons do amor que vinham do apartamento de cima, ligar o rádio, no meu celular. Caralho!, pensei comigo, não dou sorte. Mesmo na rádio da Universal. Dizia o pastor: "Demônio da dor de dente, sai; sai demônio da hemorróida, vai batendo em retirada". Desligo o rádio, ligo a TV. Sem sinal os canais por assinatura. Troco a antena, cai na TV Bandeirantes. O clássico cine-peito (Cine Privé) exibindo mais uma fantástica série: Emannuelle: o bago mole. Olhei para o lado, Lulu (minha poodle) dormia profundamente, parecia sonhar... Mexia muito as patas como se estivesse correndo; do outro lado, João, meu companheiro...Os cabelos lambendo seus beiços, dormia como uma duende rosa. Quando dei por mim, a voz endemoniada da Elis Regina escapa do quarto dos vizinhos pimbadores: "Mas, é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre veeeeeeeeeeeem". Às 7 da manhã encontro com Dona Célia nas escadas do primeiro andar. Ela me sorriu meio tímida e passando à minha frente, naquele rebolando de quem deu e não curtiu, engoliu e não gostou, disse-me: Tenha um bom dia, seu João. E desapereceu sem que eu lhe pudesse retribuir o bom dia.

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