Quando, então, o conceito de vida
(zoé) foi desvalorizado para em seu lugar o conceito mais “sofisticado” de vida
(bios) prevalecer passamos a desvalorizar a vida (zoé). Em nome da
superioridade, então, recém inaugurada pelos eloqüentes e sábios filósofos
gregos a única vida que importava realmente era a bios, isto é, a vida
política, a vida da produção dos conceitos, a vida filosófica. Nada mais era
importante, nem mais um ser vivente poderia alçar-se à superioridade do homem
embora o homem figurasse entre os animais mais fracos e a sua civilização não
passasse de outra coisa que não uma decadência daquela superioridade negada em
função da racionalidade. A civilização humana avançava e com ela se
multiplicavam as agonias humanas. Todo o processo civilizador é um eterno
começo. Toda vez que nasce uma criança é preciso, pois, que os mecanismos civilizatórios
entrem em ação para encurralar e conter a mais nova besta humanóide que nasce. É
a presença inolvidável que os valores supremos da razão inventaram e precisaram
a técnica de tal dominação de modo que é praticamente impossível fugir a este
controle. Ser racional é a garantia de saúde mental. Quem desejaria ser
irracional em ‘sã’ consciência? A sociedade moderna, pois, estabelece-se por
padrões de racionalização. É o triunfo! Nunca fomos tão racionais; também nunca
fomos tão agoniados. A razão triunfou tanto que se alguém chamar outro de “animal”
é com tal desrespeito que a mensagem é recebida que a rebordosa é garantida. Ser
animal, pois, por uma inversão de valores que circunstanciavam a vida antes da
vida política, talvez, fosse sinônimo de poder. Na vida política, filosófica,
citadina tudo é invertido. A natureza é negada em prol da fabricado, do
aperfeiçoamento. Filósofos da ilustração são categóricos em afirmar que a
civilização melhorou o homem! E de tal modo, de fato, o melhoramento humano é
perceptível: comemos com talheres e assuamos o nariz em lenço de papel, eis,
pois o melhoramento que a civilização nos patrocinou: só admitimos ser animais sob inspeção e qualificação adequada de que também somos políticos. Decaímos
de nossa condição natural para de joelhos procurarmos o fantasma que sempre nos
perseguiu: a vontade de potência. Tenho dito!
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