Já faz algum tempinho que eu venho demonstrando que músicas como "Liga da Justiça", "É o pente" não são tão estapafúrdias, tão sem noção, tão idiotas como a maioria das pessoas com quem converso imaginava. Abri-lhe, pois, os olhos e procurei, onde pude, mostrar-lhe outra realidade. A música "baixa, sem sentido" como é comum ser chamada demonstra, pois, outro lado que, ao que parece, as pessoas resistem embaldemente. O funk que selecionei, pois, para uma rápida análise desta vez foi "Dako o Bom" da Mc Tati Quebra Barraco. Diferente das imagens das músicas de Chico Buarque, por exemplo, a imagem de "Dako é Bom" é simples, sem rodeios, sem a pretensão ao universal, isto é, de colocar em imagens valores velhos que estão ruindo a contra-gosto de muitos porque uma nova sociedade está nascendo. Pois bem, vou colocar aqui os versos e analisá-los: "Entrei numa loja, estava em liquidação/ Queima de estoque, fogão na promoção/ Escolhi da marca dako porque dako é bom!". Bom, de cara o que nos chama atenção mesmo é o "dako é bom". Instaura-se, pois, a meu ver, uma luta política pela afirmação do sexo anal: sexo anal que do ponto de vista prático é um axioma mesmo que seja moralmente condenável pela maioria. Diferente de uma LUTA política acadêmica, científica, religiosa, o funk abre uma frente de combate em que o jogo semântico-linguístico característico e intrínseco ao próprio funk suaviza, com bom humor, o peso e a pesada artilharia que executa contra os opositores do sexo anal e também neste caso contra a homossexualidade. Se os intelectuais estão mais acostumados com laudas e laudas de citações entre si aqui tudo é muito diferente... No funk, o autor da música não precisa de argumentos de autoridade, nem de testar hipótese, nem elaborar uma síntese depois de um longo trabalho de pesquisa. A episteme aqui é outra. É, a meu ver, anti-intelectualóide. Evidente, não poderia ser diferente. O funk não se destina ao conhecimento científico, mas a decantar e a cantar a realidade vivida afirmando-a ou a negando conforme os próprios valores de quem os compõe, mas que retira tais valores da comunidade moral da qual é parte. Tal como "Liga da Justiça", então, "Dako é bom" abre espaço para afirmações chistosas que coloca o seu ouvinte-moralista em uma frente de batalha axiológica em que ou o ouvinte pára, ouve e analisa ou faz como todo bom idiota: rejeita preconceituando. Opondo-se, pois, a "Dako é bom" ouvi muitas pessoas dizerem que isto era baixaria. Não seria também baixaria impedir a afirmação de uma realidade, tentar escondê-la em prol de outros valores? Enfim, "Dako é bom" da Mc Tati Quebra Barraco dá aula a muita gente sem necessitar ser logorréico e verborrágico. Tenho dito!
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