Então, fui à casa de um amigo, na verdade, uma república universitária aqui em Jampa. 4 rapazes dos quais: um é hetero-viado, o tipo rambo, 2 eram namorados, tinham um namoro gay, mas o fundamento da relação era heterossexual e o outro, evidente, meu colega que se não for uma travesti pratica a arte de montar-se (vestir-se com roupas femininas). Estava armada a confusão. Bom, eu já não me assusto com nada. O hetero-viado explicava, profundamente, o por quê de ser um hetero-viado: "Não preciso abonecar: dou a bunda, mas com muita virilidade, sou macho" - natural que seja assim! -. Já o casal de namorados explicou-me como é que funciona o tal namoro: autoproclamavam-se homens, gays, resolvidos, mas os valores da sua relação estavam baseados nos valores heterossexuais da masculinidade, da moral, dos bons costumes. Pois é, nada de afrescalhação, afeminamento, nada de viadagem, de canecagem. Um namoro hetero-gay deve pautar-se pelo respeito às famílias, aos homens, principalmente. O casal é estudante de Ciências Biológicas: "Pensei cá comigo: tava explicado". O que sobrou, portanto, o meu amigo não quis dizer que se montava, que virava travesti à noite. Quer dizer, às vezes gostava de botar uma calcinha e subir na cama, fazer os gostos a um meninote que chama de amante e o apelida de cavalão - tem razão para tanto! -. Atônito? Que nada... Eu já sabia. Hoje em dia não é nenhum sacrifício a um machão retrô, o velho heterossexual, pôr uma tanguinha linha 10 para o namorado deliciar-se; é menos ainda surpreendente dois homens gays viverem de acordo com os cânones da velha heterossexualidade: afinal, os gays normalizaram-se tanto que adoeceram os heterossexuais menos progressistas. Os novos arranjos, as novas tipologias é que, aparentemente, assustam, mas procurando entendê-las, percebe-se, são as mesmas relações de cara nova. As brigas, as intrigas, as confusões, o tarado, o maníaco, o bundão, o otário, o crente, o infeliz, o romântico... A vida moderna só exige uma coisa: reflexão. Cá pra nós... Será que por trás de toda aquela virilidade do casal gay tem espaço para os paetês e as tanguinhas linha 10 que o Everardo, meu amigo, usa para ser cavalgado por seu 'cavalão'? Tenho dito!
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