segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Bunda de Fora


Semana passada um amigo me chamou para visitar um pequeno bistrô muito parecido com o do seu Vavá Ortega Botelho. O tira-gosto é uma maravilha - asseverou Macarrão, meu amigo do peito. Em consideração, fui até ao "Bar Bunda de Fora". Não encontrei nenhum gourmet, mas vá lá, disse comigo, o negócio não é tão ruim como faz crer pela faixada. Rápido, um rapazito de avental bege veio nos atender e já chegou naquela intimidade com o Macarrão:

- Iaew, brother, qual vai ser?

Suspirei. Bem, parecia algo dentro da lógica. Mas, mal bastou o rapazito dar meia-volta para ir buscar o pedido - um pires de fava, duas buchadas, uma meiota de marimbondo temperada - lá estava a bunda sorridente, peludinha, engraçadinha, com as bochechas meio no rouge, talvez, pressionadas pelo assento. Danadinha, bonitinha, parecia fogosa, cheirosa já não posso dizer, mas... Apetitosa, atraente, um beliscão naquelas nádegas de fogo... O bar cumpria com o que prometia. Terminamos a tarde meio embriagados, falando sobre Marx e os camaradas, feminismo e política paraibana. No final, Macarrão ainda teve fôlego para olhar para o garçom e recitar-lhe as nádegas do Drummond:

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.

Vexei. E quando menos esperava, um velho janota, careca, barrigudo, peito de fora, gritou para Macarrão: "Ei, moço, vou terminar o que o senhor começou":


Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda 
O garçom riu e, em meia-volta, mostrou a desejada poética de Drummond. Saímos, eu e Macarrão,  chutando as pequenas britas do calçamento.

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