domingo, 8 de setembro de 2013

O ESPANTO INTELECTUAL X A GARGALHADA BÁRBARA: Pobre Ferreira Gullar

SABEM VOCÊS que os intelectuais, na fauna brasileira, são o tipo pernóstico par excellence? Agora, misturado a perniciosidade intelectual com um pouco de cultura cristã paulina, pronto, fodeu, lascou. Eu resolvi me dedicar a demonstrar certas ridicularidades intelectuais para retirar destes tipos pernósticos todas as pretensões de verdade, a mínima que seja. Ah, deixem-me logo explicar: fazendo isto quero eu mesmo dominar o mundo, não sou menos pretensioso do que os intelectuais!
O intelectual espanta-se com novidades e faz de tal espanto um verdadeiro acontecimento da inteligência e do saber humanos. Já o bárbaro gargalha, morre de rir, grita, tem verdadeiras cócegas abdominais, estomacais quando diante de um acontecimento ele acha que existe algo novo, mesmo para ele, o bárbaro, que está acostumadíssimo, e só ele, a encontrar novidades. Vou, então, relatar-lhes o que houve.
Como sempre faço umas garimpagens a fim de me entorpecer com as besteiras intelectuais do mundo midiático nacional. Então, vou ao jornal Folha de São Paulo para ler os seus colunistas do domingo. Ingrata surpresa: o poeta Ferreira Gullar - não nego que tem uns versinhos seus que me cala fundo à alma - espantado, porque na sua idade, provavelmente, por falta de cálcio nos ossos, sua "bacia" (o ilíaco) entra em rota de colisão com o seu fêmur. Isto é o suficiente para colocar o poeta diante dos "mistérios da existência". Para um bárbaro como eu só há uma razão: velhice crônica e péssima trajetória de vida. O seu corpo está retirando cálcio de seus ossos porque provavelmente na sua vida inteira, do poetinha, o cálcio não fazia parte de sua alimentação ou ele deve ter herdado geneticamente esta maldição de seus antepassados. Mas, o poeta, que é um grande intelectual, não se curva diante desta falsa-verdade para prostrar-se - é a diversão intelectual - diante do mistério. Ele, então, dando conta de que não é apenas o juízo (essa massa consciente, armada sobre ossos), indaga-se: "Osso pensa?". Literalmente, se impõe o acontecimento ao poeta que se indaga:

tenho dentro de mim um enorme osso, de que não me havia dado conta até este momento, em que senti chocarem-se, dentro de mim, um contra o outro. E a pergunta que surge é: eu sou esse osso? Esse osso sou eu? Formula essa pergunta, mas e osso, ele pergunta?

A existência dos ossos é terrível. Basta, então, lembrarmos a proposição cartesiana do "penso, logo existo". Osso existe, mas não pensa. Então, o assombro a la Roberto Carlos: "Esse osso sou eu". Fico, realmente, encantado com as belas divagações intelectuais. Pior, sei que deve ter gente do mais alto calibre intelectual que embarca nessas coisas de um poeta velho descalcificado. De fato, para os intelectuais é assombroso, espantoso perceber que todos os seus pensamentos são fósforos - queima muito rápido. Isto deve doer bastante a quem fez do conhecimento, do saber, a certeza e salvação de sua existência e vida. Nada é mais constrangedor, nada é mais desrespeitoso para um homem do saber, para um conhecedor, para um intelectual -dentre estes tais, os pós-graduados - do que a barbárie. O homem que nada sabe - não estou falando do filósofo Sócrates, aquele que fez perder-se a juventude grega clássica! -, aquele tipo de homem que rejeita, inclusive, o saber, que debocha, sorrir e gargalha, este homem aí é perigoso: estamos livremente condenados a saber. A pergunta de Ferreira Gullar não é inteligente, mas é pretensiosa. E, é bem aqui, neste exato momento, que os fósforos pretendem sujeitar a grande fogueira. Reduzir, pois, o corpo à razão como se a razão não fosse produto deste corpo. Gargalhe comigo, ó meu amigo. Gargalhe e grite e sorria e faça pouco desta inteligência amesquinhada que inventa abismos e mistérios para ter com o que passar o tempo. É o corpo, não a percepção que temos dele, amigos, é o corpo a grande razão. Sabe o que quer dizer GRANDE RAZÃO? Sei que esta duas palavras soam bem mal aos teus ouvidos, no entanto, é preciso que te acostumes a elas. Não é esta pequena razão apartada do corpo que o percebe. Esta é fagulha. Falo da enorme, gigantesca inteligência, independente, que é o teu corpo mesmo. Aqui, então, devo parar sob pena de empobrecer a cultura intelectual. A pergunta de Ferreira Gullar deve ser reelaborada pelos bárbaros desta forma seguinte e sem assombro: "mas e osso, ele pode?" Não há mistérios na vida de um bárbaro!

O texto de Ferreira Gullar você poderá lê-lo clicando AQUI

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