Travesti não é homem, também não
é mulher; travesti tem pênis, mas não é homem; travesti se veste de mulher, mas
não é mulher. Pinta o rosto, unhas, cabelos, seios fartos, geralmente; fala
manso, fino, é delicada, mas não é o que a gente imagina que é. Travesti é um
ser daquele tipo que a gente descobre aos poucos e depois vai perdendo-o outra
vez. Imagina que é homem, pensa que é mulher, mas, rapidamente, descobre-se que
não é homem, nem mulher: é travesti. A palavra travesti não tem sentido
referencial. Faz alusão aos contrários: é um homem com pênis e tudo sem ser homem
de verdade; é mulher de cabelos, seios e encantadora, mas não é de verdade
mulher. Travesti é um termo inventado para dá uma pátria a expatriados; é um
jeito bem solícito de mandar embora na elegância a quem julgamos, os
condenados. Se ouvirmos a palavra travesti rapidamente imaginamos o que é, mas
não temos certeza, só dúvida, do que a travesti é. Alguns já disseram que é uma
mistura de macho-fêmea: tem pênis, peitos grandes, cabelos longos, faltam-lhe os
pelos da barba... Anda mole, tem bunda grande, desperta o desejo, atiça a
curiosidade, mas não é homem, nem mulher de verdade. Diabos, que inferno: que é
a travesti?
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