SÃO PAULO - "Tenho a honra de levar ao conhecimento de v. ex. um accidente que hontem deu-se no primeiro plano inclinado da serra, e do qual resultou ficar ferido um empregado da estrada". Assim começa o relato do engenheiro fiscal Francisco Pereira Passos no alto da página 9 do jornal Correio Paulistano, o primeiro diário publicado em São Paulo, detalhando um acidente na Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, em 5 de fevereiro de 1867. O que pode parecer uma informação velha, obsoleta, um fragmento de papel amarelado que já não tem mais uso nenhum, agora faz parte de um gigantesco mosaico que ajuda a entender a metrópole de hoje.
Reprodução
Capa da revista 'A Cigarra'
A notícia do acidente é apenas uma entre milhões de reportagens e fotos que estão digitalizadas no novo projeto virtual "Memória de Imprensa", do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Reformulado para facilitar o acesso a dezenas de jornais e revistas dos séculos 19 e 20, o endereço tem dezenas de reproduções de páginas que retratam os costumes e o pensamento da época em que foram escritos. Agora, é possível pesquisar detalhadamente as publicações, escolher períodos ou assuntos específicos, como se fosse um portal de notícias do passado dividido por editorias como política, cultura, esportes e gastronomia.
Trata-se de uma viagem única pela história paulista - de acidentes na estrada de ferro até as competições de "foot-ball" e "cyclismo", das últimas tendências em chapéus e espartilhos para o verão de 1855 até os postais escritos à mão pelo poeta Olavo Bilac. Entre os títulos digitalizados estão os jornais Farol Paulistano (1829), Correio Paulistano (1867) e Jornal das Senhoras (1952), além das revistas Vida Paulista (1903), Moderna (1898), O Pharol (1908), Palco Ilustrado (1908) e Capital Paulista (1900).
Editores e repórteres dessas publicações tiveram "a honra de levar ao conhecimento de v. ex." capítulos importantes da memória paulistana, sejam fatos totalmente cotidianos ou acontecimentos realmente históricos. Na edição de 15 de maio de 1888 do Correio Paulistano, por exemplo, é possível ler o decreto n.º 3.353, assinado pela princesa Isabel em nome do imperador d. Pedro II, declarando o fim da escravidão no Brasil. O periódico Farol Paulistano de fevereiro de 1829, por sua vez, publica as listas dos eleitos para os cargos de deputado da Província.
Na revista O Malho de 22 de setembro de 1906, o "suplemento de moda dedicado às famílias brasileiras", é possível ver que o branco é a cor da moda nas cidades elegantes da França. Já o Vida Paulista relata em novembro de 1903 que o "elegante Club Esperia vae de vento em popa" - de acordo com a publicação, "as regatas e o tiro aos pombos são os divertimentos predilectos da magnifica sociedade que, dia a dia, conquista ás sympathias do publico".
"Isso é apenas um aperitivo, um ínfimo de todo o arquivo que possuímos", diz Carlos Bacellar, coordenador do Arquivo Público, que pretende ampliar a oferta a cada três meses. "Queremos ser acessíveis a toda a população, além de mostrar a importância da preservação da memória."
Saiba mais em arquivoestado.sp.gov.br/memoriaimprensa.
DOCUMENTAÇÃO
- 95 títulos de revistas fazem parte do acervo do Arquivo Histórico. Apenas uma pequena parte já foi digitalizada na internet
- 1.369 títulos de jornais estão disponíveis para consulta
- 6 mil metros seria a extensão de toda a documentação do Arquivo Histórico se todos os textos fossem enfileirados
Estadão
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