NINGUÉM quer pensar a respeito da morte. Ouço amigos constantemente pedirem para mudar de assunto quando o assunto é morte. Dizem que é um tipo de assunto muito sem noção, muito triste, que não vai levar ninguém a lugar nenhum. Mas, por que ninguém quer falar de morte, pensar sobre a morte? Simples: pensar e falar sobre a morte significa fazer um BALANÇO sobre a vida. Não é a morte o que assusta e desespera, mas é sobre a vida que se vive o que não se deseja pensar, falar. A morte, justamente, é só o desligamento da vida, de seu percurso. Pensar a morte implica necessariamente em fazer avaliações da vida, da vida que se tem, que se deseja, que se quer e que se "é". Neste aspecto, falar da morte é muito difícil. Como dizem amigos: "falar de morte deprime". Discordo e digo que a morte é o véu com que se cobre a vida: aquilo que todos desejam esconder, que não desejam que ninguém levante este véu. É, justamente, falando/levantando este véu/morte que começaríamos a refletir sobre a vida: a vida que não se completa, não se alcança, que não faz sentido: pensar, pois, a morte significa pensar sobre a vida e seus significados. Não pensar a morte, pois, significa uma recusa de se pensar a vida. E enquanto não pensamos sobre a relação morte/vida entramos num mundo onde a AGONIA (no sentido médico) ganha espaço e o desejo de morte parecem sobrepor-se aos desejos de vida: e para esconder tal AGONIA a irreverência toma conta do dia de finados: o finado's fest. Tenho dito!
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