quinta-feira, 17 de novembro de 2011

ALÉM DAS TEOLOGIAS DA CONDENAÇÃO: O Evangelho apócrifo de Tomé, o Dídimo e uma resposta ao meu leitor, o Missionário Paulo

Comenta um leitor meu, o Missionário Paulo:

Eu acho que ter tanto tempo para fazer besteira na vida, você deveria estar ajudando alguma família carente ou falando de Jesus para alguém que está perdido na vida, como alguns drogados, onde eles pela escravidão que são submetidos pelo diabo não enxergam mais o dom  da vida que Deus nos deu, onde é gratuito. Pense bem, olhe teu irmão com mais amor. O que eu não quero para mim também não quero para o próximo. Eu vejo você como um grande missionário de Deus e não um blogueiro fazendo piadinha da personalidade de Jesus ou do ele fez aqui na terra. Cresça João. Deus te abençoe do missionário Paulo (comentário sobre a matéria: Jesus, um feminista moderno?)

Inicialmente, gostaria de agradecer ao Missionário Paulo por me ter em tão alta conta. Entretanto, não posso concordar com o seu comentário sobre a personalidade de Jesus. Talvez, o meu leitor mais simples, aquele mais mediano não tenha conhecimento a respeito dos EVANGELHOS APÓCRIFOS (evangelhos que a Igreja Católica renegou por ter encontrado neles material capaz de provocar uma GRANDE COMBUSTÃO, material capaz de DINAMITAR a invenção católica de um Jesus salvador do MUNDO, que veio ao mundo para nos salvar). Quando em meu artigo/matéria lançava a indagação - "Era Jesus  um feminista?" - para além do anacronismo histórico, perfeitamente, compreensível, indagava, evidentemente, a postura SÓBRIA e CONDIZENTE com a postura de um sábio - Jesus era um sábio! - que passou a enxergar, primeiramente, nas mulheres a metáfora da opressão masculina e desejou LIBERTÁ-LA. No evangelho de Tomé, o Dídimo, pode-se ler já no final um diálogo muito produtivo entre Jesus e o seu discípulo/apostolo Simão Pedro sobre Maria Magdalena em que se lê:

(113) Seus discípulos lhes disseram: "Quando virá o Reino [de Deus]?"
[Jesus disse]: "Ele não virá porque é esperado. Não é uma questão de dizer: 'eis que ele está aqui' ou 'eis que está ali'. Na verdade, o Reino do Pai está espalhado pela terra e os homens não o vêem.
(114) Simão Pedro disse-lhes: "Que Maria saia de nosso meio, pois as MULHERES NÃO SÃO DIGNAS DA VIDA".


REAÇÃO DE JESUS: Jesus disse: "Eu mesmo vou guiá-la para torná-la MACHO, para que ela também possa tornar-se um espírito vivo SEMELHANTE a vós machos. PORQUE TODA MULHER QUE SE TORNAR MACHO ENTRARÁ NO REINO DO CÉU".

Bom, aqui somos forçados a reconhecer o caráter histórico, simbólico, axiológico da narrativa. Isto é, aqui somos forçados a reconhecer que do ponto de vista histórico o Reino de Deus não poderia ter sido criado para o convívio de mulheres, uma vez que, no mundo antigo, o valor que a mulher tinha era aquele expressivo, muito bem colocado pelo discípulo Simão: "mulheres são indignas da vida". Simão só estava sendo filho do seu tempo. Mas foi Jesus, um homem a frente de seu tempo, quem primeiro reconheceu esta opressão dos machos em relação às fêmeas. E responde desafiadoramente a Simão que fará Maria Magdalena tonar-se MACHO. Veja que por macho Jesus não quer dizer atribuir-lhe um pênis no lugar da vagina. Jesus, também, faz um segundo deslocamento: o da masculinidade. Ao que parece, Jesus não entendia a masculinidade como um atributo primeiro físico (o pênis), mas como uma condição política, uma ação. Daí, guiar Maria para torná-la MACHO significa dar os mesmos ensinamentos que dava aos seus discípulos à Maria para que ela pudesse DIALOGAR com os machos em igual PODER. Logo as mulheres de posse desses ensinamentos não precisariam dos HOMENS para serem guiadas, ministradas, submissas. Isto está em acordo com a política de Jesus do "Conhecerás a verdade e a verdade vos libertará". Aqui, então, interpretemos: conhecer era FUNDAMENTAL para as mulheres libertarem-se do JUGO masculino, deixarem de ser submissas. Mais, uma vez de posse deste conhecimento elas passariam a ser herdeiras do Reino de Deus, pois, na condição geral em que as mulheres se achavam nos tempos de Jesus as mulheres, como disse Simão Pedro "não eram dignas da vida", porque viver nos tempos de Jesus, dentre outras coisas, significava também ter o domínio da própria vida e este domínio só podia se dar pelo CONHECIMENTO que era negado às mulheres. Bom, fora Jesus o iniciador desta consciência. E hoje, por exemplo, as mulheres de posse dos mesmos conhecimentos que os homens, que pastor, por exemplo, pode ministrar-lhe a palavra de modo a submetê-la? Que engenheiro químico, por exemplo, pode submeter uma engenheira química? Enfim, o conhecimento (o saber) empodera a quem dele toma "posse", ou num linguajar mais contemporâneo: o poder é um exercício. Enfim, Missionário Paulo, era esta a ideia de Jesus. E é este Jesus objeto de minha grande admiração, porque retira de NÓS homens o poder sobre as mulheres, porque caso exista um Deus ele não pode ter criado um homem para submeter uma mulher: isso é primitivo demais para um mundo que avança. Jesus, o grande amigo das mulheres, um homem sábio DIGNO da minha maior admiração. Tenho dito!!!!!

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