O conceito de vida (zoé) entre os
gregos antigos foi modificado quando a vida passou a ser objeto da inteligência
metafísica de alguns certos filósofos (bios). Rapidamente, o instinto
necessitou ser negado em favor da razão que parecia superior. Nascia, pois, o
conceito de homem, de humanidade, de filosofia. Uma nova cosmogonia e uma
teleologia nasciam a reboque. O homem agora ascendia ao posto de “animal
político e humano”. Deixava de perambular para fixar-se, homem é um ser
sedimentar, o animal não. Junto com o homem nasceu a polis – a cidade política
grega -. Começava o processo de entorpecimento vital. Se um teu vizinho te
furar o olho, corre para os tribunais (agon). Furar também o olho do vizinho ou
matá-lo pareceu aos gregos politizados algo muito animal, instintivo, uma coisa
bárbara. Procurou-se, pois, também inventar o conceito do que é justo atrelado
ao que é bom; a justiça à verdade, o homem a deus. Matavam-nos ao inventar-nos. A cidade,
a política e a filosofia cercaram o animal, encurralaram-no, sufocaram-no
deixando apenas brechas por onde o ar podia passar de modo muito rarefeito. Enfim,
o homem agora podia olhar para um seu semelhante e julgar-se, então, superior. Arrogou-se,
pois, ao direito de dominar, de fazer de todo o universo que inventara objeto
de seus fins, de suas finalidades. E hoje, mesmo depois da invenção moderna dos
BIFOCAIS não é raro encontrar pessoas que se arroguem ao mesmo direito e empunhe
as mesmas idéias de superioridade, absolutamente, citadina e política para
defenestrar o que julga ser animal e por isto mesmo bárbaro. Representação de
sua própria representação, a razão inventou este mar de ilusão, esta febre de
superioridade política. A filosofia dos gregos, pelo menos de alguns gregos,
acostumou-nos bem mal. Pois, então, eis que aludindo para a confecção da
superioridade humana também apontamos para a sua decadência, uma vez que, toda
a superioridade pretendida é apenas uma ilusão da razão que como tudo que diz
respeito ao “animal político” é inventado. Agora, pois, que nos resta senão
encararmos o “bicho” como superior a nós? Parece-te loucura? – GARGALHADAS! -. Haverá
alguém que diga: “Eu sou melhor do que um pobre cão que não sabe ler; eu sou
racional” – GAR GA LHA DAS. Desenvolvo a terceira parte mais tarde. Tenho dito!
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