Traição
não combina com amor; amor não combina com um lance:
eis, pois, o que significa o PENTE como metáfora da modernidade: é preciso
organizar as coisas. É o pente o responsável pela separação das esferas, por
seu desembaraçamento, por sua capacidade de distinguir as coisas. A discursividade, pois, de “É o pente” obedece sem
criticar o projeto da modernidade: a
organização, a separação das esferas, o controle real e sistemático,por exemplo, do social. Diferente, pois, de “Liga da Justiça” que borra a organização,
debocha dessa organização moral: “Fodge
Mulher Maravilha, fodge com o Superman”. Aqui, pois, estão borrados,
misturados os valores morais representados pela superioridade do superman e da
mulher maravilha com os valores imorais/inferiores: foder. É esta uma análise
possível. Há, entretanto, que contrastar. Se em “Liga da Justiça” a crítica que é feita se refere ao valor moral que
supúnhamos verdadeiro, ideal, ele termina revelando a sua fraqueza frente o mal
que inverte a posição dos valores e dos sujeitos: se antes o valor era orar
(Deus), agora o valor supremo é foder (Diabo). Bom, vou me referir, agora, mais
especificamente ao que significa PENTE para o funk e origem deste hit. O termo
PENTE no funk significa foder e PASSAR O PENTE significa ficar com mais de um@/ter
várias relações sexuais com pessoas diversas. Alguém, então, poderia perguntar:
“Então, João, parece que do ponto de vista do valor moral “É o pente”
assemelha-se, senão, reduz-se, converge com “Liga da Justiça” ou não é verdade?”.
Só aparentemente e se levado em consideração apenas o fato de que o sexo
(pente) assume na comunidade moral do funk. Veja, então, que o estribilho, a
repetição enlouquecida de “é o pente” nos adverte já de antemão que é
preciso ser controlado, isto é, se não me engano, a música inicia com 16
repetições de “é o pente = é a foda”. E esta repetição tende a chegar a 35,
o máximo. É muito importante perceber isto, porque a repetição que PARECIA
gerar algo como que um valor supremo pela força de sua repetição descontrolada,
uma afirmação de um valor que era então negado (foder), de repente, é pausado
para voltar ao estado de antes, o valor da organização moral: vale aqui aquela
música que diz: “cada um no seu quadrado”
e, é, neste aspecto, que a força quase telúrica de “É o pente” é domada pela organização moderna que parece
lhe advertir que não ultrapasse este limite: “Traição é traição/amor é amor/um lance
é um lance”. Portanto, para que as coisas sejam inteligíveis, é preciso que
elas estejam organizadas. E quando falamos em organizar algo falamos também em
controlar algo. Assim, desde o início “É o pente” se revela muito
mais conservadora do que a sua aparência parece querer demonstrar. Em tempo ampliarei o artigo como fiz com "Liga da Justiça".
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