quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O voto, o cabresto, a democracia, a putaria e o curupira

A vida 'moderna' nos pequenos centros nos enche de sentimentos e curiosidades pelo mais próximo. João Pessoa (PB) é um pequeno centro que arrisco mesmo a dizer que é um centro fora de centro, descentrado. E em assim sendo, todo modo, é inóspito. Mas, há os guerreiros feito eu que se arriscam, que praticam verdadeiras investidas pelos becos, ruelas, pelos shoppings populares da vida. E é aí, aqui, que a vida fervilha. Em busca, pois, de alguns objetos deparo-me com alguns velhos e jovenzinhos que debatiam política, sexo, sacanagem. Rápido, como bom psicanalista, escondo-me atrás do diálogo, abro meu caderninho de anotação - uma etnografia a escrever! - e  nada digo, apenas ouço. "Mas, o que é isto, camarada, você novinho desse jeito... E o futuro da nação como fica!?"... O moleque de aparentes 20 anos enrubesceu. O moleque estava sendo recrutado a ser o salvador da nação: sem o desejar. O outro retrucou, impiedosamente: "Seu Borge, na sua época o senhor também não era tido como o salvador da nação não, não? Nos modes do respeito, veja aí que a coisa não é bem assim como o senhor projetou não". O velho dobrou a língua, percebi, engoliu o choro, deu nó na garganta, quis ciscar no chão. Eu me perguntava: será que ele se deu conta agora que o moleque tinha toda razão? Também não fora ele o futuro da nação? Não estava ali velho, pobre, minguado e mirrado, sem forças, sem dinheiro, com o mundo político cada vez pior, com denúncias de corrupção explodindo a cada minuto? O velho Borges que antes parecia o arauto da verdade, o anunciador do novo evangelho agora parecia em transe. A conversa, pois, rapidamente, devia ser mudada, o assunto trocado. Política dá nojo, entristece, acaba o lazer. Então, foi quando passou uma garotinha ali por volta de 18-9 anos...Calça apertada, cabelos ao vento... O moleque de 20 anos quase recuperado soltou o galanteio: "Eta, morena gostosa da porra!... Olhae, seu Borge, isso é que é política... Das boa". O velho Borges, sorriu e considerou: "Política e 'foleragem' no Brasil é a mesma coisa. Ou o cara rouba o dinheiro do povo, ou come bunda de gente safada". Gargalhadas... Estas, pois, são apenas falas captadas, crônicas, descontextualizadas de um diálogo maior... Falas que se ouvem em todo canto. Não preciso problematizar... Apenas encaixá-las no meu próprio texto na esperança de achar coisa nova. Capto, pois, apenas destas falas a falta de perspectiva, a agonia cotidiana do povo brasileiro. Vivendo 'democraticamente', está preso a um cabresto quando não político, moral! Democracia só outro nome para absolutismo político, oligarquias em que famílias se sucedem no poder, conchavos de gabinete, de legendas partidárias são praticados. A democracia é só mais uma sistema de controle em que impõe ao povo a imagem da liberdade, mas consolida e institucionaliza pelo voto a sua opressão. Faz lavar as mãos os opressores e sujar o oprimido as suas próprias mãos. A putaria, pois, logo é o veneno, é o soma, o analgésico que aplaca a agonia. É pela putaria, pois, que as correntes de agonia são rapidamente quebradas: a grande faculdade do esquecimento. Poderá dizer um oráculo moderno de esquerda: "Mas, isto não é lutar, é perder, é deixar-se explorar". Para não desanimar o nosso esquerdista respondo que uma coisa não anula a outra. Faça a sua parte e aos putos a parte deles. Ah, onde entra o curupira nisto tudo? O curupira é um menino que tem os pés virados para trás, senhor e protetor das matas...Que significa, pois, virar os pés para trás e ter a cabeça erguida para frente? Franca contradição do pensamento aos passos? Nada... É apenas estratégia de conservação da vida, pense nisto! Tenho dito!

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