Então, chego ao consultório de um dentista qualquer - os odontólogos nunca serão dentistas! - e lá encontro uma feminista com pêlos nos suvacos, com catinga de suvaqueira e uma camisa um pouco constrangedora para as senhoras de família, heterossexuais convictas e mães que dizia o seguinte: "Eu também tenho cu". Era uma mensagem para os gays, implicitamente, identifiquei. Pois, então. No meio dos fascismos heterossexuais que abundavam na sala através dos olhares engarrafados das senhoras do lar apareceu um molequinho afetado, meio bichinha, amaneirado: contrastava com o jeito quase mal-educado da feminista doidona que nos obrigava à leitura de sua camiseta branca: "Eu também tenho cu". O menino, enfim, alfabetizado e conhecedor das profundezas da vida, rapidamente, identificou o notório saber feminista: "Eu também tenho cu" e leu o escrito em voz alta. Silêncio sepulcral por alguns instantes. Mesmo a feminista naquele momento enrubescera. Eu não me aguentei e soltei aquela gargalhada. O menino, afetadinho, uma linda menininha que era... Cabelos alourados, passinhos leves, olhos da cor de mel e um lindo sorriso... Olhou-me e sem o menor pudor indagou-me, assim, de cara: "O senhor também tem cu"?. Claro, respondi-lhe. Todos nós temos cu. Dali em diante, iniciou-se um forte debate. A avó da criança o admoestou. "Menino, não se faz este tipo de pergunta a um desconhecido"... Ao que o menino retrucou: "Pior, vovó, é estampá-lo em camisa". A feminista sentiu-se, neste momento, um pouco ofendida... E quando levantou o braço os pentelhos vieram à baixo e a catinga espalhou-se ainda mais... "Escute cá, menininho, você já tem idade para saber das coisas: cu todo mundo tem, mas tem gente que finge que não tem". Eu pensei em retrucar, mas preferi calar e ouvir. Então, a mocinha quase de bigodes, com voz quase grave, trejeitão másculo que, provavelmente, meteria medo em qualquer heteromachão, começou aquele papo de que mulher não tinha vez, não tinha voz, que sempre foi oprimida... Neste momento, senti que os meus testículos estavam apertadinhos dentro da cueca. Seria deste modo que as feministas se sentiam? Pensei em perguntar-lhe, mas não tive coragem... De repente, o moleque que parecia bastante animado, caiu no choro. Todos socorreram o moleque e a velhinha, sua avó lhe perguntou: "Mas, o que é isto, Adamastorzinho, homem não chora!". O menino todo afetado, manhoso como uma gata persa gorda de gente rica, retrucou-lhe de imediato: "Eu sou uma menina, vovó, já te disse, e a senhora finge não saber". É, o pirralho, rapidamente, subira no meu conceito. De bichinha afrescalhada para uma pequena moleca aventureira. A avozinha não sabia onde botar a cara. Então, eu me aproximei mais e lhe perguntei: "Mas, o que houve - quase o chamava de Solange -? E ele me olhou com ternura e me disse: "É que ser mulher dói muito... Além de ser oprimida, desqualificada ainda tem que afirmar que também tem cu". Bom, eu não entendi... E afirmei: "Mas, todo mundo tem". E ele me respondeu: "Cu todo mundo pode até ter, mas cu de mulher parece que é muito pior: é oprimido, desvalido, cabeludo que deve ser...". Bom, neste momento, a avozinha lhe tapou a boca e lho repreendeu. Eu não ousei mais perguntar nada... A feminista também se calou. Na sala de espera apenas o ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim da broca do dentista.
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