Memórias de um “usuário” de transporte público: à volta para casa
Demétrio
Aiai, mais um dia de trabalho que chega ao fim. Ou melhor, mais um dia de expediente – pois a “odisséia” do trabalhador que anda de buzão ainda vai começar... Nem bem o alívio deu as caras, a desilusão já se reinstaurou. Por um momento, o trabalhador sente saudades do patrão autoritário e de todas as cobranças de suas responsabilidades, só de pensar no que vai encontrar no ônibus. Se o desodorante Leite de Rosas resistiu à primeira viagem, meu caro amigo, certamente não terá sobrevivido ao dia de trabalho suado. Imagina aí, aquelas caras que não são de pau, mas parecem estar polidas com óleo de peroba! Xiii,
qual não é o ultraje de estar esperando um buzão na Epitacio Pessoa, às 18 horas, e ficar lá em pé de bracinhos cruzados e corpinho envergado, como manequim de cabaré? E, pior ainda, ver todo aquele tráfego de carros passando pela sua frente, um mais novinho, e cheirosinho, e aconchegantezinho que o outro? É sofrimento demais pro trabalhador. Mais ainda pra trabalhadora que espera o “Valentão”, 1519, com aquela carinha ressentida pelo mundo não ser o conto de fadas da televisão. A espera é cruel. Lá ao longe, apontam ônibus de letreiro eletrônico. A pobre moça fica triste: não pode ser o “Valentão”. Seu onibus é o primo mais velho e seboso dos buzões! É a própria história itinerante da classe trabalhadora de seu bairro. Não bastasse tudo isso, ainda vê o ponto de ônibus cada vez mais abarrotado, e cada vez mais amarrotado pelas carinhas lindas que chegam. O purgatório do pobre é diário, caro leitor! Depois que a espera parece interminável, aparece lá, no horizonte, o “Valentão”. O Laranjão. O Pegajosão. Chega está preto dentro! Não se vê nada mais, senão um mar de gente. A pobre moça, doida pra não perder a novela das 19 – ou ao menos para já estar “tomadinha banho” para a das 21 – não tem escolha senão subir no coletivão. Logo de cara, tá aquele traseirão na escadinha de subida. Pior ainda quando são mulheres de saias levantadas com aqueles pêlos suados aparecendo. Aiaiai... O ônibus passa meia hora esperando o povo se acomodar até no teto! Na parte de trás, têm uns garotos tirando sarro da cara do cobrador, que engole o choro pra não perder a pose. Daí pra frente, é um esfrega-esfrega, uma mão bobinha alisando o bumbum da moça, aquele “usuário” – de droga, não de drogas! – sentado que quase goza por ver o outro em pé, segurando a pasta do trabalho, a sacolinha do supermercado, e o que mais tiver em mãos, braços, pescoços e etc... sem pedir para segurar seu volume. É um prazer sádico! Mais gostosa ainda é a vingança quando a pessoa consegue sentar, e faz a mesma coisa com os demais que só faltam ser lançados pela janela pela pressão dos corredores. Mas a pobre moça não está no dia de sorte. Ou melhor, na noite. Ou melhor ainda, nem no dia e nem na noite. Depois de todo aquele chacoalhado masturbatório do motorista com o veículo, depois de todas as paradas, de toda a catinga, de todos os amassos, a trabalhadora, quando consegue um lugar para sentar, nem bem esquenta (ainda mais, o já quente!) assentinho de borracha grudenta – lá pelos bancos da frente, por sinal – entra novamente um “coxo”, desta vez a tomar seu lugarzinho de dois minutos de ida para casa. O calvário perdura, mas acaba uma hora! Chegando em casa, a moça logo corre pro banho pra desinfetar... e assistir sua novelinha.
qual não é o ultraje de estar esperando um buzão na Epitacio Pessoa, às 18 horas, e ficar lá em pé de bracinhos cruzados e corpinho envergado, como manequim de cabaré? E, pior ainda, ver todo aquele tráfego de carros passando pela sua frente, um mais novinho, e cheirosinho, e aconchegantezinho que o outro? É sofrimento demais pro trabalhador. Mais ainda pra trabalhadora que espera o “Valentão”, 1519, com aquela carinha ressentida pelo mundo não ser o conto de fadas da televisão. A espera é cruel. Lá ao longe, apontam ônibus de letreiro eletrônico. A pobre moça fica triste: não pode ser o “Valentão”. Seu onibus é o primo mais velho e seboso dos buzões! É a própria história itinerante da classe trabalhadora de seu bairro. Não bastasse tudo isso, ainda vê o ponto de ônibus cada vez mais abarrotado, e cada vez mais amarrotado pelas carinhas lindas que chegam. O purgatório do pobre é diário, caro leitor! Depois que a espera parece interminável, aparece lá, no horizonte, o “Valentão”. O Laranjão. O Pegajosão. Chega está preto dentro! Não se vê nada mais, senão um mar de gente. A pobre moça, doida pra não perder a novela das 19 – ou ao menos para já estar “tomadinha banho” para a das 21 – não tem escolha senão subir no coletivão. Logo de cara, tá aquele traseirão na escadinha de subida. Pior ainda quando são mulheres de saias levantadas com aqueles pêlos suados aparecendo. Aiaiai... O ônibus passa meia hora esperando o povo se acomodar até no teto! Na parte de trás, têm uns garotos tirando sarro da cara do cobrador, que engole o choro pra não perder a pose. Daí pra frente, é um esfrega-esfrega, uma mão bobinha alisando o bumbum da moça, aquele “usuário” – de droga, não de drogas! – sentado que quase goza por ver o outro em pé, segurando a pasta do trabalho, a sacolinha do supermercado, e o que mais tiver em mãos, braços, pescoços e etc... sem pedir para segurar seu volume. É um prazer sádico! Mais gostosa ainda é a vingança quando a pessoa consegue sentar, e faz a mesma coisa com os demais que só faltam ser lançados pela janela pela pressão dos corredores. Mas a pobre moça não está no dia de sorte. Ou melhor, na noite. Ou melhor ainda, nem no dia e nem na noite. Depois de todo aquele chacoalhado masturbatório do motorista com o veículo, depois de todas as paradas, de toda a catinga, de todos os amassos, a trabalhadora, quando consegue um lugar para sentar, nem bem esquenta (ainda mais, o já quente!) assentinho de borracha grudenta – lá pelos bancos da frente, por sinal – entra novamente um “coxo”, desta vez a tomar seu lugarzinho de dois minutos de ida para casa. O calvário perdura, mas acaba uma hora! Chegando em casa, a moça logo corre pro banho pra desinfetar... e assistir sua novelinha.
Felicidade de pobre dura pouco – mas seria muito pior se passasse mais tempo dentro de um ônibus!
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