terça-feira, 12 de outubro de 2010

O ANALISTA DE BAGÉ


Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.

— Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho. 

— O senhor quer que eu deite logo no divã?

— Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.

— Certo, certo. Eu... 

— Aceita um mate?

— Um quê? Ah, não. Obrigado. 

— Pos desembucha.

— Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?

— Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope. 

— Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe

— Outro.

— Outro?

— Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque. 

— E o senhor acha...

— Eu acho uma pôca vergonha. 

— Mas...

— Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!



(Extraído do conto de L. F. Veríssimo: O analista de Bagé)

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