Pupila. Olhos de jabuticabas ardentes. Xortinho mariscado de pequenas lantejoulas. Ao som da luz vibrante Naninha se apresenta no palco do Rancho Fundo. Duas avezinhas de rapina lhe cheiram o intestino. Duas avezinhas de rapina, outras, espiam-lhe os passos. Tião Calado do fundo do palco vigia todo o salão.
- Que belas nádegas... Fosse eu o sortudo de tão bela noite a seu lado, caso tivesse o tesouro que teve o rei Salomão... Ai, desgraça de vida... Tanta fartura em um lado e tanta miséria no outro.
Pezinhos de criança mimosa, doce gazela da Baixa. Uivo de lobos velhos famintos. Casa lotada. Bela Ivone, invejosa de natureza, tenta arrancar uma vaia, mas é sufocada pelos apupos e gritinhos dos gangrenados e irreverentes cristãos da baixada.
- Fossem só aquelas nadegazinhas, mas a diaba tem um par de coxas... Chupava-lhe inteirinha... Eram duas garantidas!
Fosse-que-fosse, estava Naninha pronta. Açucena do meio-dia, flor linda da meia-noite, santa da baixaria, mãe nossa da putaria. Estava linda, resplandecente, pequena, bela, pérola valiosa, pequena avestruz-marinha, loba sofisticada do nosso lar.
(João Cândido Tessar in: Contos da Cidade Baixa)
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